sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mensagem recebida

Mensagem de e-mail do orientador, logo após mais uma "investida" minha, a propósito da publicação que li hoje. Está melhor (com este texto, diz ele, oriento-me num sentido mais adequado ao que pretendo), mas dá ainda outras achegas que me parecem interessantes embora dificilmente exequíveis. Ele deve acreditar que sou capaz, mas ainda estou tão longe...!

Ora bolas :(

Começo logo o dia com uma descoberta desarmante: recebo em casa uma revista que contém, entre outros artigos, o texto de uma conferência integrada num encontro a que eu assisti - mas que logo por azar era a última comunicação, à qual faltei. Descubro, agora, que o conteúdo é muito semelhante ao do meu novo projecto, ou seja, aquilo que eu pensava que era um bocadinho de pólvora que eu tinha descoberto não é, afinal, novidade nenhuma...


Comentei isto com o orientador. Ele respondeu sugerindo que qualquer pretensão de ser original no que respeita ao âmbito em que se insere a tese seria uma veleidade minha. Original é a proposta que vou fazer nesse âmbito, mais nada. Faz sentido. Depois reflecti: sempre que eu demonstrar que tenho a pretensão de estar a ser original, provavelmente estou antes a demonstrar que não investiguei o suficiente. Reformulando: quem julga que diz alguma coisa pela primeira vez mostra, na maior parte dos casos, que simplesmente não sabe, porque não leu, que outros já pensaram isso mesmo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



Ce qu'on dit écrit das les âmes est d'abord écrit dans les livres.

                                  Emmanuel Lévinas

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Má época

Acabo de voltar atrás a ver o que andei a escrever por esta altura do ano em 2010. Verifiquei que sentia a mesma dúvida, o mesmo desespero. E mais: que fui ver o que havia escrito em 2009 e o sentimento era exactamente esse. Conclui-se, portanto, que esta é uma péssima altura do ano para trabalhar no doutoramento!

Com tempo, com sossego e sem ideias

Às vezes pergunto-me se realmente vou ser capaz de fazer isto.
Sinto-me fazia de ideias, e nem sequer posso dizer que é da falta de condições para trabalhar. Se não fosse o frio nas mãos, o ambiente aqui no meu emprego seria perfeito: estou completamente sozinha em absoluto sossego e tenho o dia todo. Mas o que é que faço com ele? Ler? O quê?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Natal é tão parvo... perdão, as pessoas em geral ficam tão parvas no Natal.

Desculpem o desabafo. É que não me deixam trabalhar!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Take 2

Nada a fazer: serei impulsiva até à morte.
Acabo de repente o texto que tenho andado a escrever, como espécie de introdução provisória à tese, em que procuro estabelecer a tal ideia de força ou de fundo, e envio-a ao meu orientador, para que diga de sua justiça.
Logo a seguir, reli o texto e achei que precisava de emendas, de mudanças. Alterei umas coisas e enviei-lhe a inevitável correcção: «por favor, considere antes este ficheiro, em vez do anterior.» Típico de quem  faz primeiro e pensa depois...
E agora, como a época é má, ele deve demorar a responder. Mais uma vez, tenho de ter calma e paciência.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nicles

Pois é... não tenho conseguido fazer nadinha.
Para referência futura, devo registar que o mês de Dezembro não rende: são as classificações dos trabalhos dos alunos, os meus anos, os anos do meu sobrinho, o Natal, o fim do ano... uma loucura, é impossível arranjar tempo para me concentrar.
Que chatice!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Isto vai

Isto vai. Devagar. Vai indo. Se não vai, há-de ir.
Releio o meu novo projecto e parece-me que já lhe vejo as pernas com que há-de andar.

É preciso não entrar em inseguranças parvas que só servem para dar de mim uma imagem de menina mimada e caprichosa, que não sabe o que quer, senão que quer ser apaparicada, levada ao colo, com festas na cabeça. Este é um trabalho para gente grande, que se faz em sereno isolamento.
Sem medo, sem ataques, sem impulsividade. Com a segurança e a tranquilidade de quem, se não sabe, faz por aprender.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Ufa!

Alívio! O meu orientador escreveu-me finalmente a dizer que as páginas que lhe enviei não são nada para deitar fora, que as deixe a hibernar, pois poderão servir (ou não), consoante o novo rumo que eu der à tese.
Optimismo e esperança, portanto! Excelente notícia para passar o feriado mais descansada...

sábado, 26 de novembro de 2011

Agradecimento

Agradeço ao Luís Alves de Fraga pelos bons conselhos que não se cansa de me dar.
Tem toda a razão, de facto eu corro o risco que aponta no seu comentário ao texto "Engolidela em seco". Ainda estou a tempo de entrar nos eixos! Vamos a isso...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

:(

Sinto-me desmoralizada. Não sei o que fazer. Apetece-me desistir. Só não desisto porque isso poria em risco a minha condição de empregada.
Não sei como sair deste buraco!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mau sinal

Este meu novo orientador é a pessoa mais disponível que há. Ou era, até agora. Nunca demora mais do que dois ou três dias a responder e, quando diz "vou ler no fim-de-semana e depois digo alguma coisa" é porque vai dizer mesmo.
Assim sendo, e dado que foi na sexta-feira passada que lhe enviei 12 páginas para ler, só posso concluir que o que escrevi está tão mau, que ele não sabe como dizer-me. Este silêncio só pode ser mau sinal...

domingo, 20 de novembro de 2011

Engolidela em seco

Com receio, desconforto e ansiedade, enviei na sexta-feira passada algumas páginas ao meu novo orientador, perguntando-lhe se seriam aproveitáveis ou se deveria eliminá-las para sempre.

Eu sei que devia era estar a ler, a ler, a ler, e pouco ou nada preocupada em escrever. Mas não sou capaz de levar tempos infindáveis a assimilar apenas, sem digerir e... enfim, deitar alguma coisa cá para fora que seja o produto, ou o resultado, dessa assimilação. Sinto necessidade de arrumar ideias, de ir reflectindo e passando as conclusões para um texto já minimamente organizado, que me facilite mais tarde o trabalho. E confesso: tenho pressa de ver a tese a começar, a desenhar-se no branco do ecrã e não devia... impulsiva, ingénua, imatura. Sempre.

Por isso, talvez seja bom levar com um balde de água fria. O melhor será mesmo que ele me responda a dizer que estou a perder tempo precioso de leitura com escritas inconsequentes.
Há pessoas que só aprendem à força, ou seja, quando levam na cabeça. Eu sou uma delas...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sem tempo nem ânimo

É basicamente isto: sem tempo nem ânimo. Ou, corrigindo: com pouco tempo e pouco ânimo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

às voltas com as palavras

Gnóstico, gnósico, gnosiológico - às vezes as palavras confundem-se e baralham-me, com as suas subtis cambiantes de significado.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sufoco

Agora tenho de estar mais tempo no local de trabalho e preencher diariamente um "Registo de Ponto". Menos tempo, portanto, para a investigação para o doutoramento, que ainda assim, claro, tem de ser feita no mesmo prazo.
Portanto... o cinto que nos aperta a existência não é só financeiro!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

contemporaneidade

O contemporâneo fala-nos de nós hoje, mesmo quando foi escrito há décadas, séculos. É sempre uma agradável surpresa - seja ela mais inócua ou mais arrepiante - encontrar contemporaneidade certeira em textos que atravessaram o tempo.


«What I propose in the following is a reconsideration of the human condition from the vantage point of our newest experiences and our most recent fears. This, obviously, is a matter of thought, and thoughtlessness—the heedless recklessness or hopeless confusion or complacent repetition of "truths" which have become trivial and empty—seems to me among the outstanding characteristics of our time. What I propose, therefore, is very simple: it is nothing more than to think what we are doing.»

Hannah Arendt, The Human Condition (1958)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

pousio

O pousio é fundamental para que possamos olhar para o que fizemos com uma atitude crítica, distanciada, objectiva, se possível, até, fazendo de conta que o autor foi outra pessoa.

Ontem escrevi, escrevi, numa tentativa quase desesperada de arrumar ideias e reformular aquilo que pensei que tinha sido o meu projecto e que afinal não era, ainda, projecto nenhum.

Agora preciso de esquecer o que escrevi, por umas horas, uns dias. E depois reabrir o ficheiro e ler o texto com outros olhos. Ou melhor, com os mesmos olhos, mas como se o texto fosse outro.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Começar de novo, com confiança

Há qualquer coisa - ou muita coisa - neste homem que me transmite tranquilidade, segurança, confiança. Mesmo quando duvido da minha capacidade para conseguir levar a tese até ao fim (aliás, fazê-la formar-se, logo para começar), só o facto de o ter como orientador sossega-me, apazigua-me. Ele há-de me inspirar!
Voltei, graças a ele, à estaca zero. E agora, ao ler o meu projecto, tenho vontade de rir, pelas banalidades que escrevi. Com duas conversas e dois livros, ele abriu-me os olhos, fez-me perceber que aquilo era superficial, pobre, pouco. Por isso, por mais que me custe pensar que tenho de começar de novo, ao fim deste tempo todo, fico feliz, sinto-me bem. E ainda há tempo, claro.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TAKE 3, 1.º encontro

Agora espero que seja de vez. Encontrei-me com o meu novo orientador para falarmos sobre o projecto. Não gosta dele, diz que não é um verdadeiro projecto, porque não existe nele uma tese propriamente dita.
Vai ser preciso ler mais e diferente, pensar mais a fundo, encontrar uma ideia verdadeiramente original, que sustente a proposta que quero apresentar. De outro modo, há apenas uma vontade, uma "fixação", mas a "tese" será apenas burocrática e... um suicídio, no que respeita à prova de defesa.
Para ter uma tese é preciso que haja "caco", uma boa ideia que seja defensável. Ele explicou isto melhor, claro, mas para registar aqui serve dizer apenas isto: o que fiz até agora é manifestamente insuficiente como ponto de partida.

Ora já valeu a pena a mudança de orientador, certo?

sábado, 22 de outubro de 2011

RESCALDO

De volta à faculdade, encontrei o co-orientador, a quem puxei eu mesma as orelhas, porque com esse não tenho obrigação nenhuma de ser meiga. Ainda estava, afinal, à espera de resposta a uma mensagem que lhe enviei pelo Facebook (aos mails não respondia) em Agosto e que tenho a certeza de que ele viu. Primeiro ainda tentou dissuadir-me: «veja lá... já é a segunda vez que muda de orientador...» mas depois ouviu-me calado, porque admitiu que eu tinha razão: muito sucintamente, a orientação dele era igual a zero.

Tive de pedir ao director do departamento que assumisse, então, aquilo que tinha dito. Estava realmente disposto a orientar-me? Então que me orientasse, por favor. Os meus orientadores não tinham tempo para mim e se ele concordava que quem não está satisfeito deve poder escolher outro, então que fosse o meu outro. Que sim, que queria ler o meu projecto para ter a certeza, mas em princípio sim.


Havia, na minha vontade de mudar de orientador, uma certa razão. Mas não se faz o que eu fiz, pelo menos a ela, que sempre demonstrou boa vontade e profissionalismo, sem considerar a falta de tempo. Não se faz, a menos que se queira fomentar inimizades. Nesse aspecto, eu dei um tiro no pé, ou, como disse depois um amigo, enterrei os pés até ao pescoço.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

BOMBA

Foi como se tivesse levado uma bomba para a faculdade, para a fazer explodir na cara da minha orientadora.
Lamentei-me junto do director do departamento, que conheço há 20 anos e por quem tenho uma grande estima, de que ela não tem tido tempo para me orientar e de que o co-orientador me ignora, como se eu não existisse. Sem ser completamente a sério, perguntei-lhe a certa altura se me orientaria, porque estava descontente e desorientada. E ele disse que sim.
Eis que se me faz clique dentro da cabeça. E se... ?
Ele nem me dá tempo para raciocinar: «ela vai ali!»
Saí a correr, para a apanhar. Esperei que ela acabasse de conversar com alguém e finalmente pude abordá-la.
«Nem tenho tido tempo para lhe dizer nada, mas não preciso de lhe dar explicações, não é verdade?» - começou ela, deixando-me boquiaberta. Ai não?, pensei. Por acaso acho que até devia...
Então, não pude evitar, saiu-me: disse-lhe que, se via que não tinha tempo para me orientar, eu podia mudar. Que o director do departamento estava disposto a assumir a tarefa, se ela não a quisesse.
Ela respondeu que eu estivesse à vontade para tomar essa decisão, que ficava ao meu critério. «Mas quer orientar-me?» - Perguntei. E ela respondeu que sim.
Então pedi-lhe que marcássemos uma reunião e que ela lesse o que tenho andado a escrever.
Só daqui a um mês, foi a condição dela... antes disso, (como sempre), não tinha tempo.
Depois de nos separarmos ela ficou a matutar naquilo. Chegou à conclusão de que tinha sido uma conversa muito desagradável e telefonou-me ao fim da tarde, para me dizer que estava muito incomodada e que sentia que não tinha condições, a partir dali, para me orientar.
Basicamente, fui uma besta. E chorei.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

IMPORTANTE

Beber vinho ao almoço não é recomendável quando se pretende trabalhar para a tese durante a tarde.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Levitação

Gosto da sensação de total imersão na leitura e na escrita, que faz de mim um ser etéreo, sem corpo nem noção do tempo, como se de repente tivesse passado a existir numa outra dimensão, onde só há espírito e o espírito pode concentrar-se exclusivamente na ideia que lhe interessa perseguir.

Do físico só tem de haver um computador e dedos ligados ao espírito, claro, para que fiquem registadas as brilhantes conclusões a que nesse estado se chega!

:-S

Faz hoje duas semanas e a orientadora ainda não me deu qualquer resposta.
Comecei a escrever-lhe um e-mail em que perguntava qualquer coisa como «já teve oportunidade de ler o meu e-mail anterior?». Mas desisti. Para quê?
1. Ela vai ficar aflita e pedir desculpa, justificando-se com os seus inúmeros afazeres. 2. Eu já sabia que ela não iria ter muito tempo para mim (foi por isso que começou por declinar a proposta de me orientar!). 3. O que é que eu quero, ou preciso, neste momento, que justifique o envio de um terceiro e-mail? Não posso continuar o trabalho sem ter a resposta ao que lhe perguntei? Posso.

Tudo o que eu queria, já percebi, era apenas alguma atenção. E não é para isso que serve um orientador.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bolas :(

É um nadinha frustrante chegar ao fim do dia, quando se tinha a intenção de dedicar pelo menos o período da tarde ao trabalho para o doutoramento, e verificar que, afinal, o tempo não deu para lhe dedicar nem um minuto.
C'est la vie...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Devagar se vai... a algum lado.

Posso fazer muitos planos, ter grandes expectativas, e acabar por conseguir fazer muito pouco num dia que poderia (deveria!) ter rendido muito.
Mas se fiz alguma coisa dou-me por feliz. Se escrevi um parágrafo, mais ainda. E se ele me parece bem, tanto melhor!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Esperar sem desesperar

E-mail enviado.
À minha orientadora, só para lhe dar conta da situação em que estou. Eram apenas algumas linhas e não enviei nenhum anexo, mas ela respondeu uns dias depois a dizer que iria lê-las com atenção no fim-de-semana e depois me diria qualquer coisa.
Faz hoje uma semana.
Tranquila...
Há muito que fazer e não me perco sem bússola.
Acho.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ler e transcrever

Leio e transcrevo, leio e transcrevo. Parágrafos, páginas quase inteiras. Isto há-de servir para alguma coisa, espero. Leio e vou transcrevendo. Acumulo e colecciono citações. Pouco mais posso fazer, por enquanto. Calma.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Tempo e oportunidade

Mais do que ser precioso - e preciosamente escasso - o tempo é irrepetível, e cada oportunidade que nos oferece de sermos, acontecermos e fazermos nele é absolutamente ÚNICA.
Quer isto dizer que sinto o seguinte: se eu não tivesse aproveitado os momentos de hoje, que me serviram para ter determinadas ideias e chegar a determinadas conclusões, talvez elas me fossem vedadas para sempre.
Ou talvez não.
Mas nunca se sabe...

Decisions, decisions...

Entre ir à praia e ficar a ler e a trabalhar na tese, escolho .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
ok, fico em casa :(

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Palavras a mais

Um autor palavroso parece estar permanentemente a querer erguer um muro entre os leitores e o significado do que diz. Desconfio sempre de alguma insegurança, que levará precisamente à protecção por trás de uma barreira de palavras.
Mas também se aprende com estas leituras mais difíceis e maçadoras. A não pecar pelo mesmo defeito, claro. E não só. Porque a erudição que sobressai, tirando os exageros da verborreia, é inspiradora.
Nada como ver o lado positivo das coisas!

domingo, 25 de setembro de 2011

Unindo o útil ao agradável

Fico feliz quando uma leitura que escolhi para as horas de lazer se me revela útil e inspiradora para o trabalho de investigação. É ouro sobre azul, como se costuma dizer. E esta foi. Aqui fica um excerto:


«os homens o que querem – o que queremos – é ser humanos, não instrumentos nem bichos. E queremos também ser tratados como seres humanos, porque a humanidade é algo que em boa medida depende do que fazemos uns com os outros. Explico-me melhor: o pêssego nasce pêssego, o leopardo chega ao mundo já como leopardo, mas o homem de maneira nenhuma nasce já homem e nunca chegará a sê-lo se os outros nisso o não ajudarem. Porquê? Porque o homem não é somente uma realidade biológica, natural (como os pêssegos ou os leopardos), mas também uma realidade cultural.»

Fernando Savater, Ética para um Jovem


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Gostar

Gostar do que se faz é absolutamente fundamental - para mim, claro.
Não concebo a ideia de fazer investigação, escrever uma tese, sem ter gosto genuíno pelo que se faz.
Só assim se consegue vencer todos os obstáculos, superar a insegurança, ignorar os medos e, claro, fazer leituras que de outro modo seriam absolutamente insuportáveis!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sem orientação, mas não sem rumo

No arranque do ano lectivo é particularmente difícil reengrenar na investigação. Todos os dias há 20 motivos prementes para deixar a tese em banho-maria. Mas hoje, finalmente, consegui desligar-me (quase a 100%) do resto e dedicar-me, de novo, à leitura e à escrita.
Fiquei satisfeita com o que consegui fazer nestas horas. Contente com o rumo que estou a seguir e entusiasmada com as perspectivas deste meu trabalho solitário. Às vezes pergunto-me se a minha orientadora se lembrará de mim. Mas não me preocupo. Pelo menos para já.

sábado, 10 de setembro de 2011

Impulse II

Estou com sorte, descobri outro livro inspirador. Acreditam que me apetece mais ler do que fazer qualquer outra coisa? Maldito fim-de-semana...!

sábado, 3 de setembro de 2011

Impulse


E se um livro que antes se lhe afigurava maçador de repente lhe parecesse interessantíssimo?

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

«Para que é que foi comprar esse? Eu tenho e emprestava-lho!»


Já gastei bastante dinheiro em livros que não precisava de ter comprado. Em tempo de crise, isto é ainda mais revoltante do que em tempos de abundância.

É um erro que vou voltar a cometer, é quase certo. Mas tenciono ter mais cuidado quando encomendo seja o que for. Há livros caríssimos que mandei vir pela Amazon e que praticamente não me serviram para nada e, em princípio, nem vão servir. Claro que não devo dizer "este livro não lerei", nunca se sabe. Mas tenho de ser mais criteriosa na compra e explorar ao máximo as possibilidades que as bibliotecas públicas e os amigos me oferecem.

domingo, 28 de agosto de 2011

Férias


E não fiz praticamente mais nada, além de ler umas míseras 30 páginas de um livro imprescindível, que levei de férias para não ter problemas de consciência. Mas foi bom ter sido capaz de me abstrair de tudo e simplesmente descansar, como é suposto. Afinal, porque é que eu tenho tanta resistência às férias, tanta mania de estar sempre a produzir alguma coisa?!


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vai-se fazendo qualquer coisa...

Encontro breves nichos no dia-a-dia, autênticas bolsas de ar silencioso onde me deixo envolver por leituras que me pegam na mão e me fazem segurar de novo o fio desta longa meada.

Seguro-o e sigo a linha de pensamentos alheios, que se misturam com os meus e me fazem ver novas possibilidades de reflexão e escrita, com um entusiasmo que começa por ser nulo, depois se torna tímido, logo mais forte, e finalmente, quando o tempo chega ao fim, quase arrebatador.

Deve ser para me dar vontade de continuar a inventar tempo para estudar, mesmo durante as férias!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Colegas que valem ouro

As minhas duas colegas preferidas (M&M) vieram cá ontem almoçar.
Trocámos bibliografia - uma delas requisitou um livro na biblioteca municipal para me trazer! -, conversámos pela tarde fora, rimos e demos força umas às outras. Não deixar que as outras desanimem é o nosso lema. Ou fazemos isto todas, ou não faz nenhuma - é o que gostamos de pensar.
As vidas são complicadas e todos os dias há problemas e prioridades que nos impedem de trabalhar como gostaríamos, há motivos vários para desesperar, ou pelo menos para duvidarmos de que vamos conseguir. Mas qualquer uma de nós sabe, acho eu, que basta um e-mail ou um telefonema para receber apoio imediato. Todas sentimos - pronto, é o que eu sinto que nós sentimos - que parte da compensação pelo esforço não tem nada que ver com a obtenção do grau, mas com a amizade que o percurso para chegar a ele nos permitiu descobrir. Porque, quando nos juntamos, não temos de falar só das leituras e das teses, dos orientadores e do júri que nos poderá calhar. Podemos falar de receitas e de receios, de filhos e de cadilhos, de férias e de lérias. De tudo o que quisermos e for preciso. É ou não é?

Ora, quem é que se pode gabar deste tipo de relação com colegas num curso de doutoramento?!
É quase milagre, eu diria...

Obrigada, amigas :)

Silêncio

Ainda dizem que quem não responde não quer comunicar...
Há silêncios que têm mais significado do que mil palavras!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Queda na real

Sou arrogante, impertinente e inconveniente. Tenho a mania de vir para aqui queixar-me de tudo e de todos e agora estou a ser castigada. Só pode.
O meu putativo co-orientador deve ter vindo aqui parar e leu as minhas queixas dele. Ficou zangado comigo e por isso não me responde nem faz tenção de me ajudar. Bem feito.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mudança de táctica

Dispensei o meu co-orientador, eu sei, por ter concluído que ele não estava interessado em ajudar-me.

Mas resolvi, agora de repente, mudar de atitude. Afinal, a principal orientadora está agora de férias e indisponível, durante um mês, para me acompanhar. Por isso, decidi enviar-lhe uma mensagem a perguntar directamente se está disposto a ler o que vou escrevendo, para me obrigar a trabalhar e a pensar durante as férias do emprego.
Vamos ver se ele responde... se a resposta for positiva, é de aproveitar!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Uma nuvem maior

De súbito, esbarrei com a consciência de que tenho neste momento da minha vida preocupações muito mais sérias e absorventes do que a tese. A tese deixou de ser a nuvem escuramente invisível sobre a minha cabeça. Foi substituída pela ameaça do desemprego!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Pausa

Quem não faz quase nada, como eu, não merece uma pausa.
Mas fui à praia, quem quiser que me censure! Estava óptima e hei-de lá voltar em breve. E não vou deixar de fazer a tese por causa disso :)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Curto, mas bem aproveitado

Arranjei um bocadinho e estou a aproveitá-lo! :)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Hiato

«Última mensagem publicada a 14/07/2011»?!
Tanto tempo sem fazer nada...  :(

Vejamos o que aconteceu:
a) tive muito trabalho no emprego
b) tenho uma filha de férias em casa
c) não estou suficientemente entusiasmada para me pôr a ler de noite o que não tenho tempo para ler de dia.

É possível alterar a situação nos tempos mais próximos?
Não. Porquê?
a) continuo e continuarei com muito trabalho no emprego (enquanto este dura, é sempre a esfolar o pessoal)
b) em breve terei não um mas dois filhos de férias em casa
c) o entusiasmo não se encomenda na Amazon.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O ficheiro

Tenho um ficheiro onde vou escrevendo. O quê?
Coisas.
A tese?
Já acreditei mais que fosse a tese.
Então se não é a tese é o quê?
Frases, ideias, uma argumentação.
Definitiva?
Se o fosse, podia dizer que sim, que é a tese.
Mas a prudência, a humildade e a consciência do caminho por percorrer obrigam-me a dizer que não, que não é. É preciso sentir uma segurança que eu ainda não tenho para poder dizer que já se está a escrever a tese. Claro que me move a secreta esperança de que aquilo se converta, um dia, no próprio texto da tese, mas já não tenho a ilusão ingénua de que vá permanecer assim, tal como está. Vai ficar irreconhecível, com o tempo - e é bom que assim seja.
Em todo o caso, mesmo que assim aconteça, é bom que eu não o deite fora e que o vá modificando, à medida que me vou sentindo capaz de o fazer. Pena não ser um testemunho da evolução, porque cada vez que o altero perde a forma anterior, qual palimpsesto incansavelmente reescrito.
Mas que seja palimpsesto em vez de testemunho, desde que haja mão e cabeça para o renovar continuamente!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quase-desespero

Vai haver muitos momentos assim: de ansiedade e medo de não ser capaz, um sentimento avassalador de impotência perante a enormidade da tarefa.
Há aspectos práticos e físicos que me provocam este quase desespero que me trouxe de lágrimas até aqui, onde estou agora a escrever: a falta de sossego, a inexistência de um lugar onde haja a garantia de que fico sozinha e imperturbada durante o tempo que eu determinar. Outros são psíquicos: a consciência de que o que li não é nada, comparado com o que me falta ler, a ideia de que não percebi nem metade do que li, a sensação de não ser capaz de escrever nada que interesse, etc.
Em todos os casos, a resolução não é fácil, mas começa por ter calma e contentar-me com o pouco que conseguir fazer, porque pouco é sempre melhor do que nada. Parece simples. Respirar fundo. Mergulhar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Encontro 1

Correu bem, mas foi curto.
Do que a orientadora me disse, guardo sobretudo isto: não vale a pena tentar cumprir a meta do cronograma (escrever o primeiro capítulo até Setembro), pois é mais importante, para já, fazer e digerir leituras, pensar em termos globais no caminho a seguir, ir construindo hipóteses de trabalho e reflectindo sobre formas de explorar o tema.

sábado, 9 de julho de 2011

Sentimentos contraditórios

Entusiasmo, vontade de mergulhar nisto, frustração por não poder.
Desejo de paz, para trabalhar, raiva, por não a ter.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ainda às voltas com Roman Ingarden...

«São as frases provenientes de operações subjectivas intersubjectivamente idênticas? Existem mesmo quando não são de modo algum pensadas? Qual é o seu modo de ser e o seu fundamento ôntico do seu ser quando elas existem?»


...Mal posso esperar pela resposta em... :


«§66. A identidade intersubjectiva da frase e o fundamento ôntico do seu ser»

(bocejo)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Há que saber aproveitar o tempo

Hoje, se não fossem os dois exames que tive de vigiar, não teria feito nada para o doutoramento. Graças a eles, pude mergulhar num livro, tomar-lhe o gosto, tirar umas notas, ter umas ideias, enfim... comecei a entusiasmar-me de tal maneira que só desejava que o exame acabasse para poder pegar no ficheiro em que estou a escrevinhar e continuá-lo. Regressou a inspiração que andava fugida e até passei a gostar um bocadinho do Roman Ingarden e a sentir que o percebo um nadinha melhor, apesar de tudo!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Encontro adiado

Não pôde ser hoje, afinal...
Ficou o encontro adiado para dia 11. Até lá, mais tempo para me organizar, arrumar ideias, apresentar trabalho feito, tecer algumas linhas para o rumo a seguir, enfim. Há que ver o lado positivo e aproveitar a maré e o vento de feição.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Literatura e valor intrínseco

Dizem muitos teóricos que a (boa) literatura não tem propriedades que permitem defini-la enquanto tal, que os textos podem passar a ser considerados excelentes ou deixarem de ser excelentes, de acordo com convenções, normas e crenças historicamente determinadas. Sustentam, portanto, que os textos que constituem o cânone literário - as "grandes obras" - não têm qualidades intrínsecas, mas apenas o favor de comentários que as vão continuamente valorizando, que lhes vão dando atenção.
De facto, qualquer tentativa de explicar quais são as marcas distintivas de um bom texto literário é tarefa difícil (impossível?), inglória e desnecessária. Mas uma coisa tenho como certa: a preocupação estética do autor em relação à forma como diz o que tem a dizer, que conduz, nos casos felizes, à boa qualidade dos textos nada tem que ver com o consenso da "comunidade interpretativa", quase 100% orientado pela crítica (jornalística, ensaística e académica, segundo a divisão de van Rees em "How a Literary Work Becomes a Masterpiece").
Acontece com a literatura (socialmente aceite enquanto tal) o mesmo que com qualquer outra forma de arte: um artista pode pôr os seus excrementos dentro de uma lata com o rótulo "merda d'artista" e vendê-la por quantias exorbitantes. Porque a crítica, e depois a sociedade, entendeu valorizar essa"afronta". Mas qualquer indivíduo tem o direito de se negar a considerar esse objecto como uma obra de arte - do mesmo modo que pode considerar que é arte um produto "caseiro" que ninguém mais no mundo viu ou verá, muito menos apreciará enquanto arte (se a "merda" posta dentro de uma lata for minha, ninguém a quer nem oferecida, claro).
Do mesmo modo, a (boa) literatura, a que merece ser lida, relida e transmitida de geração em geração, para que não caia no esquecimento, é um conceito que tem duas vertentes: a social, que diz respeito ao tal  consenso, àquilo que a instituição literária determina que é literatura; e a individual, que só respeita a cada um de nós, na sua forma particular - privada, mesmo - de ler e de apreciar o que lê (ou seja, de construir o seu cânone pessoal).
E não me venham dizer que qualquer texto (mesmo o mais merdoso) pode ser considerado excelente, se a comunidade de académicos e críticos assim o entender. Há génio, há originalidade, há sabedoria, há elegância, há força, há subtileza, há profundidade num bom texto (estou a ler o Dom Casmurro de Machado de Assis e apetece-me recomendá-lo a toda a gente). Se não há num texto nenhuma dessas qualidades, e mesmo assim o texto é considerado notável e se torna um best-seller, é porque alguém anda a querer fazer dos outros parvos. Ou porque muitos de nós o somos mesmo.

Agenda incerta

Orientadora finalmente pode ser que tenha tempo para me ver. Pode ser... talvez na sexta-feira. Não sei se acredito.
Orientador não dá sinais de vida, a não ser no Facebook, claro, mas aí não me interessa. Ah, e recebo uns e-mails dele (que não são enviados por ele, mas vêm como se fossem) a convidar-me para fazer umas compras não sei onde. Era o que me faltava!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O melhor professor de sempre

É o que me ensinar, que me inspira, que me revolta, que está disposto a aprender com os alunos. Que se vê que tem gosto em estar ali, a fazer o que faz, como faz, mesmo quando tem um ar desconsolado.
É o que ironiza, que brinca, que diz grandes verdades, que põe em causa, que desconstrói.
É o que ouvi ontem, de novo, e talvez pela última vez, a dar uma aula.
É o que eu gostava de poder ouvir sempre, porque nunca me cansaria. Nunca.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Ele há com cada uma...

Vou percorrendo as páginas de um dos três livros a despachar estas semana, sem grande entusiasmo, e eis que leio: «O erotismo anal serve de pretexto referencial ao romance»... Segue-se a citação da epígrafe do referido romance, que simplesmente faz uma referência ao «realíssimo traseiro» de alguém «a quem os pseudo-submissos vêem verdadeiramente o cu». O autor da citação conclui: «Este texto já contém matéria suficiente para um discurso freudiano». A mim parece-me que tudo pode ser objecto de um discurso freudiano, se tivermos tempo e paciência para isso.

E eu tenho? Para que é que isto me interessa?
Pois.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Reengrenar rapidamente

Desengrenei, por causa das aulas, ou melhor, dos trabalhos dos mais de 70 alunos e das classificações. Estava num ritmo tão bom, a fazer qualquer coisa todos os dias, sem falhar, quando dou por mim e... já tinha falhado. Para que é que eu fui dizer que estava tudo a correr bem? Estava-se mesmo a ver...
E agora, após um fim-de-semana que nunca mais acabava, sinto dificuldade em engrenar novamente. Mas tem de ser! As férias grandes das crianças aproximam-se a passos largos e assustadores. SOCORRROOOOOO!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Citação do dia

A linguagem perdeu a sua aptidão própria para a verdade e para a honestidade política ou pessoal. Vendeu, e vendeu ao desbarato, os seus mistérios de intuição profética e as suas capacidades de resposta à lembrança exacta. [...] Agora sabemos que se a palavra «era no princípio», também pode ser no fim: que existe um vocabulário e uma gramática dos campos da morte, que as detonações termo-nucleares podem ser designadas como «Operation sunshine». Seria como se a quinta-essência, o atributo que identifica o homem – o Logos, o órgão da linguagem – se tivesse quebrado dentro das nossas bocas. [...] Em questões decisivas, a nossa civilização, hoje, é uma civilização «depois da palavra».

George Steiner,  "Presenças Reais" (1985)

Fazer alguma coisa todos os dias


No dia 10 de Outubro de 2009 escrevi isto:

Tinha pensado em seguir o lema "fazer alguma coisa para o doutoramento, nem que seja muito pouco, todos os dias", mas é óbvio que não vou conseguir. Em quatro anos, isso seria uma loucura. Pior, levar-me-ia certamente à loucura.

Engraçado... há mais de duas semanas que este lema reecoou na minha cabeça e resolvi segui-lo, sem me lembrar de que já o havia tentado antes, sem sucesso nem vontade.
Ao fim deste tempo, em que tenho vindo a conseguir, realmente, fazer todos os dias alguma coisa para o doutoramento (seja ler, seja escrever, seja assistir a uma palestra, etc.), concluo que este lema é o que me tem salvado, qual tábua a boiar num mar revolto, quando me sinto perdida, incapaz, assoberbada pela titânica tarefa.
Todos os dias faço, sim, alguma coisa para o doutoramento. E vou continuar a fazer.
Curiosamente, é isso que me impede de desesperar... talvez até de enlouquecer.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Literatura e biografismo

A Metamorfose soube-me a pouco. Não esperava que fosse uma leitura tão rápida e que o enredo fosse tão simples. Não imagino como é que pode ter sido convertido num filme - só se o realizador desenvolveu muito a história e a tornou em algo bastante diferente.
Pareceu-me, de certo modo, uma obra quase juvenil, inocente, ainda que perturbadora. Como se tivesse sido escrita por um adolescente sensível, impressionado com o absurdo de um mundo despótico, frio e cruel.
Foi certamente pelo conjunto da sua obra - e talvez mais por outras do que por esta em particular - e sobretudo em virtude de uma análise biografista que Kafka acabou por ser tão influente na literatura ocidental. O que toca, comove e perturba não é o texto desligado do autor e do contexto, mas a sua leitura tendo em consideração o homem que o escreveu e a experiência de vida que o marcou. E isto continua a ser verdadeiro, nos casos em que os escritores se destacam por um percurso distinto da multidão.
Por mais que se queira abolir o biografismo dos estudos literários, em favor de leituras "científicas" do  "texto-em-si" a relação entre "o homem e a obra" continua a ser irresistível, fecunda e muitas vezes comovente, ao ponto de fazer toda a diferença no entendimento que se faz da literatura.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Insólito kafkiano

Hoje deparei com a Metamorfose numa livraria e não resisti.
Afinal, é uma leitura que já devia ter feito e que me vai, decerto, dar uma luzes fantásticas...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Citação do dia

Hoje há várias citações memoráveis. Mas escolho esta, porque me diverti a ler o que Umberto Eco escreveu sobre a surpresa de ter verificado, depois de ter reescrito uma das suas obras numa língua que dominava mal (inglês), que essa versão era melhor que a original, redigida na sua língua materna:

«Sabe-se que a Art poétique de Verlaine diz “prends l’éloquence et tords lui son cou”, e conhecemos o apelo de Flaubert para que o génio se realize através de uma certa bêtise. Escrever em outra língua significa conquistar a “estupidez”, que é o propósito a que o estudioso deve visar.»

U. Eco, Conceito de Texto

1983 vs 2009

Uma das minhas dificuldades permanentes: decidir se o que estou a ler é relevante, apesar das décadas que já tem (tantos são os autores incontornáveis...) ou está ultrapassado e deve ser substituído por um ponto de vista mais actual.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Não ver, para não descrer

Tenho medo de abrir o ficheiro em que comecei a escrever o primeiro capítulo. O mais provável é ler aquelas palavras como quem acaba de acordar de um sonho em que tudo parecia maravilhoso, mas não tem nadinha que ver com a realidade.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

I&E

Investigar e ensinar é o binómio que se impõe a qualquer docente do ensino superior. Difícil mas necessária ginástica que implica publicar x artigos por ano e ao mesmo tempo ter uma carga lectiva que justifique o ordenado. Claro que a melhor solução de compromisso é encontrar formas de investigação que se apoiem na prática lectiva, para que o tempo dedicado a cada actividade seja simultaneamente despendido em proveito da outra. E quais são os professores que podem conciliar de forma tão prática e eficaz as faces da sua vida profissional? Muito poucos, eu diria. Mas tenho colegas que conseguem fazê-lo - ensinam e investigam, por exemplo, na área da metodologia do ensino das ciências.
Invejo-os por isso.
Mas continuo a gostar da minha vida, do meu trabalho, da minha investigação. Não se pode ter tudo e o que eu tenho já é imenso!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Citação do dia

  «A literatura é, e deve ser, um veneno ministrado sabiamente; uma arte de prestidigitador, capaz de, com elegância ou com violência, levantar um sujeito acima do chão, ou tirar-lhe, como quem tira um tapete, o chão de debaixo dos seus pés; e a literatura não tem obrigação alguma de conservar o sujeito no ar, em qualquer dos casos: a intencionalidade da literatura consiste mesmo em suspender a acção mágica e em deixá-lo cair, perplexo e perdido, de quanto mais alto melhor.»

Jorge de Sena, "Amor da Literatura" (in O Reino da Estupidez: I)


Estás perdoado, Sena!

Kundera, Eco, Sena, tudo à mistura

Espera aí, Eco, que eu já te atendo. Sei que tens andado da mesa-de-cabeceira para o escritório e do escritório para a mesa-de-cabeceira, mas és boa companhia - animado e alegre, vivo e irónico - e é por isso que ainda não te despachei por completo. Ou queres voltar para a prateleira?
Olá, Kundera, há muito que andava para pegar em ti. Gostei do teu estilo simples, reiterado, quase oral. Gosto da tua vertigem, do teu mergulho constante nas insondáveis (afinal não tanto quanto isso) profundezas do ser(-se) humano. E é tão bom poder ler um romance que também é leitura académica! Mas o romance é ideal para ler à noite, na cama (melhor do que as tuas conferências, Eco, não desfazendo, se é possível). Por isso, Kundera, deixo-te por agora, na página 89, e volto a ouvir-te mais logo, se não te importas.
Como estás, Sena? Confesso que não tinha muita vontade de dialogar contigo, embora alguma curiosidade, porque detestei ler o Físico Prodigioso (a culpa não devia ser tua, mas da idade em que o li). Tinha curiosidade, sobretudo, porque o livro em que agora pego tem por título O Reino da Estupidez. Só me interessa, em princípio, um dos ensaios, mas detenho-me, para já, no prefácio. Parece-me relevante, começo a transcrever passagens... e alto. Eis que me vejo a descompreender progressivamente a tua prosa, como se de repente começasse a ficar cada vez mais pitosga, até deixar completamente de ver.
Interrompo para marcar uma consulta de oftalmologia, porque isto me recorda que preciso realmente dela. E pode ser que me ajude a perceber-te melhor, sabe-se lá. A ti e aos outros, já agora. Só o Kundera, no meio disto tudo, se pode ler quase às cegas. Abençoado seja!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Desisto

Desisto, abdico de um dos meus orientadores.
Tenho dois, posso-me dar a esse luxo.
Não me liga, não me dirige palavra quando me vê, não quer saber de mim nem do meu trabalho, é como se eu não existisse. Não merece o nome de orientador, nem mesmo de co-orientador.
A partir de hoje, faço eu também de conta que ele não existe. Se não tem servido para nada mesmo!...
Entre ter dois cães de guarda, um que adormece em serviço e outro que passa todo o tempo a pavonear-se para as cadelas verem e os outros machos o invejarem, mais vale ficar só com o primeiro. Sempre guarda melhor a casa, quando está acordado, e é menos um a comer.

Lado bom

Lá fui gravar o filme promocional do curso de doutoramento da faculdade. Tinha uma maquilhadora à minha espera e tudo! Gravei três vezes, para garantir que alguma coisa se aproveita. Falei dos aspectos positivos do curso, omiti os negativos. Muito diplomático e lisonjeiro da minha parte, sem dúvida. Teatro? Não, apenas um dos lados da experiência. Mentira? Nada disso, simples omissão. Vira-casaquismo? Talvez. Tinha dito que não o faria, porque não tinha nada de bom a dizer. E disse.
Vá, batam-me!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Olá e adeus

Fui à faculdade para mais uma aula do curso de estudos avançados.
No pátio, à minha frente, vejo caminhar a minha orientadora, que não me vê. Salto para o pé dela, a cumprimentá-la. Prazer em vê-la, blá-blá-blá. De imediato me ocorre: ela vai perguntar como está o trabalho e é preciso responder! Mas ela desfaz-se em desculpas por não ter combinado ainda comigo uma reunião. Explico-lhe que ando a fazer leituras e que ainda me falta escalar uma montanha de livros. Então ela sorri, totalmente compreensiva, e parece aliviada: então ficamos para Junho!
Despedimo-nos. Ficamos para Junho.
Por um lado é um alívio também para mim, mas por outro nem tanto. Gosto de espaço e de tempo, mas preciso de exigência, de vigilância constante.
Um orientador deve ser como uma espécie de cão de guarda, sempre alerta e em cima do acontecimento. Se adormece em vez de fazer rondas constantes à casa, não podemos confiar inteiramente nele...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mudar de livro

Mudar de livro é sempre bom. É sinal de que estamos a avançar, a progredir. Mas há livros que deixam pena quando os fechamos, mais ainda quando os devolvemos à biblioteca que no-los emprestou. São livros velhos a quem poucos dão valor. Estão desactualizados, claro. Por isso, lá vão eles calar-se humildemente, ficar de novo quietos, num longo sono de subaproveitamento.
Despeço-me deles quase como de alguém. Momentos antes de os entregar, folheio-os ainda mais uma vez, passo os olhos por linhas ao acaso, à procura de mais uma frase sonante, como aquelas pessoas que lançam um último grito em direcção ao vale, do alto da montanha, antes de lhe virarem costas, para que o eco se faça ouvir enquanto descem.
Adeus, tem de ser, são horas - é como o acabar de uma conversa.
Ponho um ponto final no meu diálogo silencioso com o Jacinto (do Prado Coelho) e inicio outro com o Eduardo (Lourenço). Como está, passou bem?

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Cedi

Estas leituras enervam-me. - A causa, o motivo, ou uma desculpa?

O principal é que fui vencida pela minha fortíssima fraqueza e cedi.

Fui às batatas fritas.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Página 4

Pode ser para deitar fora, pode ser para manter. Não faço ideia. Mas vou escrevendo, à medida que as ideias surgem. Com medo que desapareçam para nunca mais voltarem.

Ingarden e eu

Decididamente, Roman Ingarden e eu não nos entendemos.
Ele não responde às minhas perguntas e eu não percebo nadinha do que ele diz.


Serei só eu?
Façam-me o favor de ler isto:


Segundo Ingarden, a obra literária é constituída por vários estratos heterogéneos, nomeadamente os seguintes:



a) o estrato das formas significativas verbais e das produções fónicas de grau superior erguidas sobre elas;
b) o estrato da unidades de significação de diverso grau;
c) o estrato de múltiplos aspectos esquematizados, das continuidades e séries de aspectos;
d) o estrato das objectividades apresentadas e seus destinos; este último estrato, duplo, divide-se em correlatos das frases intencionais apresentativas e objectividades neles apresentadas e seus destinos.


Ora, é impressão minha ou isto é incrivelmente vago, absurdamente ambíguo, estranhamente abstracto?
Sinto-me completamente estúpida. Ou então escandalosamente gozada.


Desculpem o desabafo!


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Incredulidade

Será possível que eu já esteja na página três de um texto minimamente aproveitável enquanto esboço do que virá a ser uma... tese?

Sentimentos ambivalentes

O coordenador do departamento pede-me que preste um depoimento, a gravar em vídeo, para promover os cursos de doutoramento num filme promocional da faculdade. Logo a mim! Tive vontade de lhe enviar o link deste blogue. Em vez disso, fui sincera ao ponto de responder assim ao seu e-mail: «Resta saber se a faculdade está interessada em divulgar o meu depoimento... essa é que é a grande questão.» E ele foi igual a si próprio, arguto e superior a provocações: queria crer que a faculdade estaria interessada em conhecer a minha opinião, qualquer que ela fosse, mas num vídeo promocional naturalmente não seria muito sensato divulgar as que fossem menos agradáveis; que não queria que eu me esquivasse de dizer o que realmente penso, por isso obrigada na mesma e até uma próxima.
Mais tarde, em amena conversa pessoal, dei-lhe uma ideia do que pensava e ele compreendeu e está de acordo. Sabe muito bem que as coisas têm de melhorar. Mas não encontra ninguém disponível para fazer o tal depoimento... Acabei por ficar com vontade de ajudar. Combinámos que eu direi o que entender, mas já não sobre o curso específico, antes sobre a importância de fazer um doutoramento na área. Simples e eficaz. Porém, como é evidente, muito afastado do objectivo inicial. Seja.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tentação e medo

Tentação de saltar já para a conclusão.
Medo de, se o fizer, não ler mais nada do que fica para trás.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Citação do dia

«o paradigma filológico dirá inevitavelmente: estuda-se uma obra em tudo o que nela é estudável, e o resto é beleza, e da beleza nada há a dizer; basta fruir. Mas a beleza é o sexo: origem sexual da beleza, como Freud pretende. E o sexo perverte a serenidade do estudo.»
Eduardo Prado Coelho, Os Universos da Crítica


Sem comentários...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Citação do dia


«A formação do gosto faz-se através da família e da escola – embora não exclusivamente. Mas, para que essa formação seja eficaz, é necessário que ela surja no interior do sujeito como o produto da sua capacidade de «sentir, pensar e julgar pela sua cabeça». Trata-se de naturalizar o arbitrário. E para isso é imperioso que, como diz Bourdieu, a inculcação do arbitrário se faça pela ocultação do arbitrário da inculcação.» 

Eduardo Prado Coelho, Os Universos da Crítica

Mar imenso

O livro que tenho pela frente é um mar imenso que não consigo, nem conseguirei, abarcar na totalidade. Resigno-me a viajar nele e a tentar colher, nas várias viagens que vou fazendo, o melhor que ele me pode oferecer e que eu sei aproveitar. Mergulho às vezes, quando me sinto capaz de adaptar o corpo à temperatura da água. Abro os olhos e vislumbro o fundo, lá longe. Nessas ocasiões, sinto-me feliz e realizada, ainda que por escassos momentos. A maior parte das vezes, olho-o da superfície e contemplo as suas maravilhas. Vou absorvendo os tons, captando as ondulações, tentando em vão decorar linhas, texturas que apanho com mais facilidade, porque a luz e o meu estado de espírito assim mo permitem. Tiro fotografias incessantemente, procurando registar todos os aspectos que sei que me escapariam por completo, se não o fizesse. Cada gota representa algo diferente e único.
Este mar imenso assusta, intimida, mas encanta e seduz. E a solidão em que me vejo nele ajuda a percebê-lo melhor. Ou talvez apenas a sentir-me mais próxima dele. Mas mais perdida, nos dias piores.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

sábado, 30 de abril de 2011

Regresso às aulas

Eis que me inscrevo num curso de formação «ao longo da vida» organizado pela unidade de investigação a que estou agora associada. Pensei, na minha ingenuidade, que o título "Filósofos explicam a literatura" prometia pelo menos alguma elucidação.
A lição de abertura foi, para mim, uma tremenda desilusão. O professor convidado leu páginas intermináveis do que me pareceu ser uma colagem de ensaios que escrevera antes, a propósito de poemas e contos que ninguém ali tinha na frente, em prosa densa e erudita cheia de palavrões sonantes, tudo lido com uma rapidez vertiginosa (que no entanto se estendeu por uma hora) e pouco ou nada relacionado com o tema da lição.
Dei como desperdiçado o dinheiro que gastei para ali estar e resignei-me a sair em silêncio, em vez de barafustar, como se calhar devia, contra a péssima qualidade pedagógica do evento. Talvez as sumidades académicas se definam por isso mesmo: pela falta de jeito para ensinar e pela dificuldade que têm em traduzir a sua verborreia por miúdos que se percebam.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

De volta ao cut & paste...

Corta daqui e cola antes ali. É o que estou a fazer com aquilo que se aproveita do meu trabalho, à luz dos meus olhos de agora - que vêem um nadinha melhor do que viam no ano passado (os da mente, claro). Há muita coisa que, infelizmente, não se aproveita.
Confesso que estou desiludida com o que fiz e na altura me pareceu muito bem. Não por o ter feito, mas por ter achado que estava muito bem. Faz parte do processo, dir-me-ão. Estás a "crescer", é bom sinal! Pois, pois. Mas dói um bocadinho. Porque é como se, mais uma vez, voltasse à estaca zero. Muito bem, está tudo mal. Mas como é que eu faço melhor?
E isto enquanto tento reciclar o trabalho para o enviar como proposta de artigo para publicar na revista. Cada vez com menos esperança de que seja aceite, como é evidente.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Publicação?

Atrevi-me a enviar um resumo do trabalho que fiz no ano passado para uma revista da especialidade que estava a convidar investigadores a submeterem artigos para apreciação e posterior publicação. Recebi resposta a dizer que ainda estou a tempo (apesar de ter terminado o prazo de entrega de resumos), que ficam à espera do meu artigo.
Fiquei histérica de felicidade, embora, claro, o artigo possa vir a ser recusado.
Agora toca a reler o trabalho e a fazer as alterações necessárias. Será uma boa preparação para o primeiro desafio da tese, que é redigir o capítulo inicial, cujo conteúdo será semelhante.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A frase mais gira das leituras de hoje

«Mesmo no campo das ideias, nem sempre a monogamia é necessariamente sinal de uma falta de líbido.»

Sabem quem a disse? Foi num convénio sobre o símbolo que teve lugar em Siena em 1994.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Persistência assistida pelo clima

Dia de chuva serena, quase imperceptível. Impecável para ler e tomar notas, mesmo quando o livro é antipático. Estou apaziguada com ele e consigo até - pasmada - ver rasgos de beleza em certas frases caprichosas e altivas, que só dificilmente se deixam compreender.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Livros difíceis

Será que se aplica, como Pennac defendia para a leitura de romances, o direito de saltar páginas e de ler apenas algumas frases soltas aqui e ali (as que conseguimos compreender), para não andar a bater com a cabeça nas paredes tentando ler tudo, de uma ponta à outra?
Os livros difíceis deveriam permitir truques que facilitassem a passagem obrigatória sobre eles. Sobretudo, que garantissem a preservação da sanidade mental de leitores de capacidades limitadas, como eu.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Conversa inspiradora

Um amigo incentiva-me a ter uma atitude positiva em relação à tarefa de escrever uma tese. Não queres passar os próximos três anos em desespero permanente, porque tens de a escrever! Disciplina-te, organiza a tua vida de forma a que tenhas todos os dias um tempo para te dedicares - com prazer, já agora - ao trabalho de investigar e escrever. E fora desse horário, não penses nisso, descansa e relaxa. Se te ocorrer um motivo de preocupação nessa altura, toma nota, para te preocupares depois e não na hora do descanso! Disciplina, para controlar o stress. É boa ideia.
E é um teste engraçado: se tomar nota, por escrito, das coisas para me preocupar mais tarde, o mais provável é ter vontade de rir (e não de me preocupar) quando as ler depois.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Se os orientadores se votam ao silêncio....

...o melhor é ser eu a estabelecer os meus próprios objectivos a curto prazo, para não lhes dar (nem ter eu mesma) uma surpresa desagradável, quando se lembrarem de me perguntar o que tenho andado a fazer.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

And the countdown begins...

Chego a casa hoje e deparo com O e-mail da faculdade, aquele há algum tempo esperado, com um misto de medo e ansiedade:

« Informo V. Exa. que o registo do tema da tese de doutoramento, intitulada -------- foi aprovado, tendo sido nomeada a Prof.ª Doutora ---------  como orientadora e o Prof. Doutor --------- como co-orientador pelo Conselho Científico, em 04/04/2011.»

Releio a data. Quatro de Abril. Isto significa que o tempo para escrever a tese começou agora oficialmente a contar, a partir daquele dia. Toca a trabalhar! Agora é a sério.
Para além desta informação, também me diziam que tinha de pagar 600 euros de propina, mais seguro (1,5 euros?!), mais "custo administrativo" (28,5 euros). Fiquei assustada. É que eu já paguei tudo o que havia para pagar. Será que se esqueceram? Onde é que eu guardei o recibo, que me deram em 2009? Ah, é verdade, NÃO SEI DELE!... Pânico. Respondo de imediato para os Serviços Académicos a pedir que confirmem que aquele aviso para pagamento não se me aplica. Enquanto espero pela resposta, procuro mais uma vez em vão o tal recibo de 2009.
Felizmente, ao fim de dez minutos ou algo assim (que aguentei em apneia), respondem-me pedindo desculpa pelo equívoco e confirmando que não tenho nada a pagar. Ufa! E agora posso voltar a preocupar-me com a tese: a contagem decrescente já começou!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Por aquilo que leio...

Começo a achar que a minha tese será bastante apreciada, se for incompreensível.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Hoje ao menos li alguma coisa

É isto: hoje ao menos li alguma coisa.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Coragem precisa-se

Preciso de coragem para enfrentar o que falta, que é praticamente tudo.
O que fiz até agora, passado um ano e meio de trabalho (pesquisa, artigos), foi uma brincadeira. Foi apenas o necessário para poder chegar a um novo ponto de partida (que traição!), que é o momento em que nos aceitam o "registo da tese". Os trabalhos que escrevi não vão servir para a tese, são ainda ensaios (no sentido experimental do termo) ingénuos e imberbes, quase inocentes. Ficam para recordar, mais nada.
O que falta fazer é o que conta - excluindo, claro, as notas que já tive e que farão média com a classificação final na defesa da tese. Mas isso são meros números e o que vale, para mim, é a obra feita, não são os números.
Falta-me tudo.
Falta-me ler tudo. Falta-me pensar tudo, falta-me escrever tudo.
E pior: falta-me a coragem toda para começar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

O peão das nicas

Professora telefona-me muito admirada, porque eu nunca mais lhe disse nada sobre a situação da inscrição da minha tese num centro de investigação.
Desculpe? Mas eu fiquei de lhe dizer? - pensei para comigo. Parece que sim, mas não percebo muito bem porquê. Pelos vistos os orientadores, a coordenadora e o director do departamento (responsável pela unidade de investigação em que fui aconselhada por eles a increver a minha tese) - embora trabalhem todos juntos (no mesmo departamento e no mesmo centro de investigação) não comunicam entre si. E depois a culpa é do aluno... santa paciência!

domingo, 27 de março de 2011

Banho-maria

Não tenho feito nadinha.
Para a tese, claro. Para as aulas tenho feito muito. E com gosto. E com sentimento de culpa, porque me parece que me empenho mais e mais, para gastar mais tempo, de forma a que este não me sobre para tocar no papão...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Encontro sobre o tema

Aventuro-me esta noite a ir até outra cidade, a 200 km, para assistir a um encontro sobre um tema directamente relacionado com a minha tese, que decorrerá durante os próximos dois dias.
Estou satisfeita por ter tido a coragem de deixar a família (sou TÃÃÃO importante aqui em casa, não sei como sobreviverão sem mim!) e o conforto das coisas conhecidas, para ir sozinha ouvir pessoas desconhecidas durante horas a fio. Vou deitar-me só, acordar só, tomar as refeições sem companhia, deambular por espaços estranhos durante intervalos que vão parecer intermináveis sem trocar dois dedos de conversa com ninguém.
Vai-me fazer bem.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Interlúdio burocrático

A burocracia arrasta-se penosa e desnecessariamente, criatura indesejada e grotesca.

Só um dos profes é que me enviou prontamente a sua declaração por e-mail, num pdf assinado, impeque.
Quando aos outros três, professora e professor (futuros orientadores), mais coordenadora do curso, diziam que me enviavam por correio, que a deixavam lá na semana passada, que me enviariam e-mail, etc. Mas nada. Até agora, tenho zero dos três papéis a entregar amanhã.

Quanto ao projecto, que assim se chama o trabalho final de curso após a respectiva defesa, não sei se lhe fiz as devidas alterações ou não, mas começo a sentir-me a borrifar. Os orientadores não se pronunciaram. E, afinal, já recebi a nota...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Continuar

É fundamental não perder o ritmo, fazer todos os dias alguma coisa, nem que seja ler duas ou três páginas. Digo eu.
Alguém disse que as teses não se fazem com a cabeça, mas com o rabo: ou com o tempo e a capacidade para o manter sentado na cadeira...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Já está

Já me livrei desta, pelo menos! A arguente foi muito simpática, gostou do trabalho, levantou uma questão fácil de responder, o orientador acrescentou ideias interessantes para a tese e estava tudo a correr lindamente, até que a presidente do júri, coordenadora do curso e minha tutora por uns meses, me teceu algumas críticas (não ao trabalho em si, mas que devo ter em séria conta para a tese) e manifestou desagrado pela forma como me cingi a citar, a enunciar opiniões sem as questionar, sem as desconstruir... enfim. De repente senti-me a levar nas orelhas da pessoa de quem menos esperava tal ensaboadela, mas a verdade é que a discussão do trabalho visa, precisamente, dar conselhos ao doutorando no sentido de o alertar para aspectos importantes a ter em conta quando redigir a tese.
Engoli em seco e tentei defender-me, mas senti que não havia volta a dar.
Levei um 17 e saí feliz e aliviada. Acabou, posso respirar tranquilamente por mais uns meses. E melhorar, melhorar, melhorar.

terça-feira, 1 de março de 2011

Véspera da defesa

Estou calma, mas apreensiva. É possível, sim.
Tenho a cabeça cheia de pensamentos, frases soltas, pedaços de argumentos, farrapos de justificações, nomes e títulos soltos, citações que poderão vir a propósito.
Estou a tomar duche como se tivesse levado um livro para a banheira, acordo com a sensação de que já estava acordada há muito tempo, porque o cérebro estava ocupado em raciocínios.
Cheguei à conclusão de que não era bem este o plano da tese que queria defender amanhã, mas agora tem de ser. Sei que sou capaz de argumentar como se fosse a coisa mais importante e lógica do mundo, mas já não acredito completamente nele e isso incomoda-me ligeiramente.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Alívio

Conversa com o ex-futuro orientador.
Pedi-lhe desculpa, mas iria ficar no Departamento em que me inscrevi, associada ao centro de investigação que me foi aconselhado pela coordenadora do curso, e com o orientador que agora foi meu tutor e me acompanhou na elaboração do Trabalho Final.
Que compreendia, que esse centro nem é ainda um centro aprovado pela FCT, que eles precisam de doutorandos, que até agradecia, porque está cheio de trabalho e ainda aí vem mais. Sorridente e confiante, estendeu-me a mão e despedimo-nos.
À saída da faculdade, encontrei o professor responsável pelo centro de investigação em que vou inscrever a tese e confrontei-o com o meu receio de associar a tese a um centro que ainda não existe oficialmente. Que existe, só falta a FCT vir avaliá-lo enquanto tal (eles que venham quando quiserem), que tem projectos financiados, que é um laboratório e não propriamente um centro, mas com muito orgulho. Que me vai enviar documentos sobre a sua constituição e actividades. Que além disso os meus orientadores são seus colaboradores.
Ok, pronto, não levanto mais dúvidas. Seja como for, o que interessa é fazer a tese e ela ser aprovada, e isso depende de mim e do meu trabalho.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Defesa para breve

Soube ontem o nome da professora arguente do meu Trabalho Final. Desconheço a pessoa e nem vou investigar, para não ficar assustada, caso depare com um perfil e um currículo intimidantes.
A data sugerida é para breve, mas não foi confirmada.
E a minha putativa orientadora, como só o será na condição de ficar na sombra de outro orientador, nem sequer está no júri. Sinto-me algo apreensiva, mas quero estar optimista. Não há razão para alarme, apenas para serenidade e bom senso.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Trabalho Final entregue

Depois de um bom almoço no Nepalês perto da faculdade, acompanhado de um copo de vinho para descontrair, lá fui com a minha colega "siamesa" entregar os trabalhos: 3 exemplares impressos, mais um CD (o dela tinha a tinta mais carregada do que o meu... chuinf!).
Afinal não era para entregar no secretariado dos doutoramentos (porque é que negam sempre terem-nos dado informações erradas?), mas sim no secretariado do departamento. Tanto me faz, desde que a Prof. coordenadora os receba, proponha um júri e os distribua.
Quando pousei os meus exemplares em cima da pilha que já lá estava, reparei que uma outra colega mandou encadernar a quente com capa de cartolina impressa, como manda o figurino. Achei mais bonito, o próximo também vou fazer assim!
Enviei um e-mail à coordenadora a informar que lá deixei o trabalho, para que não haja confusão nem esquecimento. E aos professores que me apoiaram (uma bem, outro menos bem) uma mensagem a agradecer a ajuda (sincera para a primeira, algo irónica para o segundo) e a enviar a versão definitiva do ficheiro, para que posssam guardar ou deitar fora, como queiram.

Por enquanto respiro, mas quando marcarem a defesa até vou deixar de dormir, com a nervoseira!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Segunda revisão

Depois do feedback da Professora (a orientadora a sério, o outro é só para dar o nome e nunca mais disse nada), impôs-se outra revisão. Ela assinalou gralhas, um erro ortográfico (fui apanhada!), frases que precisam de uma construção mais sofisticada, coisas menores na bibliografia, enfim. Parecendo que não, é trabalho para algumas horas.
E o problema é que, ao reler o texto para ver se tudo ficou devidamente alterado, descubro-lhe imperfeições antes insuspeitadas. Agora, quanto mais olho para ele, mais emendas lhe faço. Não, não me venham dizer que sou perfeccionista, não é nada disso! O que emendo são falhas que seriam, quase de certeza, vistas como fraquezas pelo arguente. Além de que, de repente, pareceu-me imprescindível acrescentar referências bibliográficas que me fazem dar chapadas na testa por não as ter posto lá antes.

Moral da história: não pensar que a revisão final vai ser coisa pequena, uma vírgula aqui, um itálico ali. Por incrível que pareça, ainda há grandes mudanças a fazer e para isso... é preciso tempo! Mas só me resta o fim-de-semana...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Waiting

Já fiz a revisão. Apanhei muita coisa, pequenina e graúda: falta de índice, número de página errado numa referência, frases de construção duvidosa, palavra involuntariamente repetida, data passada na capa do trabalho, ideia mal explicada, falta de um parágrafo conclusivo, enfim. Valeu a pena imprimir e ler com atenção.
Depois de fazer as correcções todas que soube e pude, enviei para os orientadores e pedi desculpa por ser o terceiro ficheiro com o trabalho, mas agora prometia não enviar mais nenhuma versão até que eles me comunicassem as suas reacções e sugestões.
Recebi uma resposta: que é assim mesmo, aperfeiçoar vale sempre a pena, desculpe não ter podido ler ainda, prometo que será este fim-de-semana.
Espero com paciência e serenidade. Ainda não estou livre de levar com um balde de água fria em cima, mas há uma voz tranquilizante vinda não sei bem de onde que me diz que, se isso acontecer, a água será morna.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Acabado?

Experimento imprimir o trabalho todo, como se estivesse acabado. (E se estiver?)
Confesso que não sei. Em todo o caso, há gralhas de certeza, e essas apanham-se melhor olhando para o papel.
Ainda há tempo, posso dar-me ao luxo de fingir que este é o momento final, ir à faculdade para o encadernar e ver como as coisas correm. Brincar à entrega.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Escreve, reescreve, corta, acrescenta

Afinal, parece que a maior parte do texto do trabalho já estava feita, nos trabalhos anteriores. A professora achou bem ir lá buscar tudo o que fizesse sentido incluir no projecto. Eu achei logo que as 20 páginas que "arranjei" faziam muito sentido, claro. Assim podia sentir o alívio de saber que agora só faltava cortar, em vez de inventar.
Claro que depois percebi que não podia ser e dediquei-me não só a eliminar o que, afinal, não era para ali chamado, como a acrescentar o que fazia mais sentido e era preciso, afinal, criar. Honestidade por tranquilidade. E a tranquilidade volta depois, mais confiante. Vale a pena!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Agora sim!

Foi ótimo descansar, agora é trabalhar.
De ânimo revigorado, livros a jeito, ficheiros abertos, atiro-me ao projecto. Sem medo, sem vacilar. Abrindo caminho como quem se embrenha no mato e quer chegar ao outro lado antes do anoitecer. Se não for por aqui, é por acolá. Não se esmorece por causa de uns passos para fora do caminho.



Nota: este texto foi escrito ao abrigo do malfadado AO, que não serve para nada mas a que mais cedo ou mais tarde teremos de nos habituar. A única alteração está assinalada assim.

Férias são férias, trabalho é trabalho

Está visto. Parece uma verdade de La Palice.
Mas custou a entrar na minha cabeça!
Vá lá, que ainda entrou a tempo de me permitir gozar a pausa do Natal e ano novo, que afinal me soube que nem ginjas.
De facto, não valia a pena andar a bater com a cabeça nas paredes, estava-se mesmo a ver que o tempo não ia render. Os dias não eram propícios a trabalho intelectual intenso. Assumida, quase a contragosto, a necessidade de aceitar a realidade, descansei e acabei por me sentir verdadeiramente em férias. Deitar-me à hora que me apetecesse e dormir até tarde quase todas as manhãs foi, só por si, compensador.