Tenho um ficheiro onde vou escrevendo. O quê?
Coisas.
A tese?
Já acreditei mais que fosse a tese.
Então se não é a tese é o quê?
Frases, ideias, uma argumentação.
Definitiva?
Se o fosse, podia dizer que sim, que é a tese.
Mas a prudência, a humildade e a consciência do caminho por percorrer obrigam-me a dizer que não, que não é. É preciso sentir uma segurança que eu ainda não tenho para poder dizer que já se está a escrever a tese. Claro que me move a secreta esperança de que aquilo se converta, um dia, no próprio texto da tese, mas já não tenho a ilusão ingénua de que vá permanecer assim, tal como está. Vai ficar irreconhecível, com o tempo - e é bom que assim seja.
Em todo o caso, mesmo que assim aconteça, é bom que eu não o deite fora e que o vá modificando, à medida que me vou sentindo capaz de o fazer. Pena não ser um testemunho da evolução, porque cada vez que o altero perde a forma anterior, qual palimpsesto incansavelmente reescrito.
Mas que seja palimpsesto em vez de testemunho, desde que haja mão e cabeça para o renovar continuamente!
Fique tranquila que não vai ser a tese! Garanto-lhe. Mas, tenho a certeza, vai ser um repositório de boas ideias, uma fonte inspiradora, um depósito de esperanças, uma caixinha de surpresas. O no dia que assim for, estará em condições de arrancar para a redacção da primeira versão da tese e, depois, dir-nos-á do imenso prazer, da enorme vantagem de ter ido escrevendo toda aquela quantidade de palavras, de ideias, génese de um labor maior.
ResponderEliminarCoragem. Vá para a frente.
Escreva e reescreva. Está a apurar o pensamento e isso faz-lhe bem. Dá-lhe confiança, pelo menos durante o momento em que escreve.