quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Troca de "emílios"

Ter uma colega com quem desabafar umas coisas é sempre bom. É alguém que nos compreende, que sabe o que estamos a fazer e o que nos custa:
a) ter sempre alguém a perguntar o que raio estamos a fazer;
b) não ter ninguém que queira realmente saber o que estamos a fazer.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Pausa forçada

Passei o dia todo no hospital, a ver se resolvo este estúpido problema do inchaço dos olhos e da vermelhidão comichosa da cara. Levei duas injecções de anti-histamínicos, mas não adiantou grande coisa.
Agora, dose cavalar de corticóides e mais umas coisas.
O pior é o sono que estas drogas dão!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Enxertos e próteses

Parece um milagre. Cada vez que abro o ficheiro com o texto, vejo uma ligação diferente entre as ideias. Tiro parágrafos daqui e ponho-os antes ali... e não é que o conjunto passa a fazer mais sentido?

Muitas vezes sinto que estou a trabalhar sem método, que com essa impulsividade ponho em risco o rigor e a seriedade do trabalho. Mas olho para o resultado do meu anti-método e não me consigo convencer de que não tem funcionado...
...e já estou na página 17!

Agora explica-me, pele da minha cara: porque continuas atopicamente comichosa?

domingo, 27 de dezembro de 2009

Leitor precisa-se

O problema... são vários, claro. Mas um dos problemas nesta fase é não saber se aquilo que escrevi até agora se aproveita, é válido, ou é uma porcaria.
Basicamente, precisava de alguém de confiança, que percebesse do assunto e tivesse a noção do grau de exigência de um trabalho deste tipo para ler o que escrevi e opinar. Preciso de saber se deveria reformular tudo ou simplesmente continuar.
Todos os guias de trabalhos académicos nos aconselham a dá-los a ler a alguém antes de os submeter à avaliação. Não nos dizem é onde encontramos esses leitores beneméritos!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Avanço

O artigo já vai na página 11. Como é possível ter chegado até aqui?
Não tem sido uma questão de imaginação, acho mesmo que estou demasiado presa àquilo que tenho lido. Tenho de me libertar e escrever por mim, sob pena de me colar aos outros, coisa que detestaria fazer, até porque sei que tenho capacidade para inventar. Parece-me que é, sobretudo, uma questão de receio. Receio de que as minhas ideias não sejam suficientemente válidas para se imporem sozinhas, sem o recurso à voz dos mais sábios.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Orgulho infame

Os dois últimos parágrafos do que escrevi hoje são para o lixo e custa-me admiti-lo. São para apagar porque neles, além de fazer uma crítica negativa a alguém com muito mais saber e autoridade do que eu, não adianto nada no meu trabalho com isso. Mas como acho que tenho razão na crítica que faço, custa-me apagá-la.

De castigo, vou deitar-me e obrigar-me a repetir, até adormecer: se acho que o que os outros fizeram está mal feito, em vez de os criticar, esforço-me por fazer melhor.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Há dias assim

Na vida de um doutorando, de certeza que há dias como este, em que li teses de outras pessoas e fiquei a pensar que nunca serei capaz de chegar a concluir a minha.
Não desespero ainda, porque sei que toda a gente passa por isso (e decerto muitas vezes, ao longo dos anos que o doutoramento nos consome), é normal. Estanho seria nunca duvidar da minha capacidade para concluir tão laboriosa e difícil tarefa.
Mas fiquei triste, porque na vez anterior o dia passado na BN me tinha sabido muito bem. Estava confiante, optimista, cheia de vontade de continuar. Hoje saí de lá aliviada por vir para casa brincar com os filhos, esquecer tudo o que me tinha ocupado a cabeça durante aquelas opressivas horas.
Amanhã será um dia diferente!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Escrita em dia

O artigo vai tomando forma. Já não é apenas uma página insegura, receosa de se ver reduzida a uma simples linha, após uma reconsideração cuidadosa e implacável, mas quatro páginas bem recheadas de notas de rodapé, que ora sustentam por meio da autoridade de vozes alheias todas as afirmações minimamente discutíveis, ora referenciam devidamente as fontes de afirmações já feitas por outros.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Não aguentar os cavalos

A minha desobediência de mim própria é desconcertante.
Escrevo que vou ter calma, que vou esperar e ler mais e, no minuto seguinte, começo a escrever.
Sai-me uma página, uma página inaugural espremida em quase duas horas de muita hesitação, em que cada palavra parecia um actor inseguro, como se este,  depois de entrar no palco, se desse conta de que não estava pronto e voltasse para trás da cortina, para ser substituído por outro. Com uma pergunta constantemente na cabeça («o que é que o professor avaliador vai achar disto?»), fui apagando e escrevendo, apagando e reescrevendo, até que lá consegui encher um página da qual, muito provavelmente, dentro de alguns dias, nada se aproveitará.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Aguentar os cavalos

Por mais que me apeteça começar a escrever o meu próprio texto, o meu primeiro ensaio de tese, o meu voo inaugural para fora da citação, os dedos param a milímetros do teclado e reflicto: ainda é cedo.

Há mais leituras para fazer. Começar já seria uma leviandade e, muito provavelmente teria de ser corrigida mais à frente. Não vale a pena, digo-me. Aguenta as ideias, lê mais e vê se elas continuam a ter pernas para andar, daqui a mais umas leituras.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Crianças vs artigo

As crianças estão em casa e o artigo em construção não consegue compatibilizar-se com elas.


Não posso deixar de invejar os colegas mais velhos, cujos filhos já não passam o tempo a pedir brinquedos e atenção.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Como dar melhor do que o melhor?

Último recado da coordenadora sobre os nossos artigos: deverão ser do género dos que fizemos durante o curso de Mestrado, mas, uma vez que agora estamos no Doutoramento, com mais conhecimentos, mais aprofundados.

Sinceramente, não sei fazer melhor do que fiz no Mestrado. Releio o que escrevi na altura e encolho-me perante a erudição que transparece daquilo, perante a quantidade de títulos da bibliografia, que agora pouco ou nada me dizem, passados dez anos.
Único consolo: pensar que os outros também se sentirão assim, não só perante os seus trabalhos, que lhes parecerão escritos por um sábio que não reconhecem em si próprios, mas perante os textos académicos alheios, cuja pomposa verborreia parece sempre evidenciar uma saturação de conhecimentos, mesmo quando assim não é.

O segredo, portanto, está na verborreia.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Finalmente: um dia na BN

Ah! Que maravilha!
Nunca pensei sentir-me tão bem na grande e silenciosa BN.
A verdade é que me tinha esquecido de como se está bem naquele ambiente tranquilo, em que tudo e todos cumprem o mesmo objectivo: a leitura.
Chamem-lhe sarcófago, digam o que disserem, a BN é o melhor ambiente de trabalho que eu poderia desejar. Até os funcionários parecem estar mais simpáticos, se bem que nem a antipatia deles me incomodaria um pedacinho. É que na BN o meu telefone não toca e, melhor ainda, não há camas para fazer, loiça para lavar, roupa para dobrar ou refeições para cozinhar! É a liberdade total e todo o tempo que eu quiser para, simplesmente, LER. Sem distracções, sem desculpas, sem rodeios.
Como resultado, despachei o Sílvio Lima de uma assentada - literalmente! - e ainda ataquei os Cadernos (obrigada, Papel Químico, mas parece que já não vou precisar dos teus!).
Mal posso esperar pela próxima sessão de retiro espitirual.
Sobretudo - e acima do ambiente - estar na BN permitiu-me recuperar aquela sensação de prazer enorme que se tem quando aquilo que estamos a ler se relaciona com o já lido, e começamos a tecer na cabeça uma rede tão envolvente de relações e ideias, que nos abstraímos por completo do tempo, do espaço, quase de quem somos. E construir um texto académico é isto: criar uma rede de raciocícios que liga, de uma forma nova e original, os raciocínios alheios. Citamos, não para nos colarmos aos outros e assim escondermos a falta de ideias próprias, mas para mostrar como os outros dialogam entre si, sem suspeitarem disso, na medida em que existe entre as suas ideias uma ligação que NÓS DESCOBRIMOS.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Acabou-se a procrastinação

Andei para aqui a dizer mal do curso, agora é bem feito: afinal não vou ter direito aos 40 créditos pelo Mestrado, mas apenas a 20 (o que já é uma sorte!). Isto significa que, dos 4 seminários deste ano, tenho de fazer dois. Portanto, agora não há desculpas para protelar a escrita do artigo para avaliação, a entregar em Janeiro.
O meu problema não é tanto a escrita, mas tudo o que tenho de ler antes de poder começar a teclar furiosamente, para preencher 15 páginas de brancura. Se por um lado me faltam ideias para começar já a criar o meu texto, por outro (é giro:) assim que começo a ler, dá-me logo vontade de começar a escrever, inspirada pelo que leio!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Não é por nada...

... mas a mim parece-me que é para não terem de pôr mais professores a dar aulas (ou os mesmos professores a dar mais aulas) no curso de doutoramento que o mês de Janeiro ficou reservado para as avaliações.
Quer isto dizer que, num semestre que supostamente tem 15 semanas, só há aulas durante 9 (amanhã é o último dia). As próximas aulas são para os alunos apresentarem os seus trabalhos.
Pois! Obrigadinha... Só espero que alguns alunos tenham de facto os trabalhos prontos no dia 8!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A ficha de leitura

A ficha de leitura é um instrumento fundamental de trabalho, mas é pessoal na medida em que cada um a faz de acordo com as suas necessidades, os seus objectivos e até os seus gostos.
Eu, por exemplo, nunca fui de comprar aqueles cartõezinhos com linhas (parecidos com as fichas bibliográficas, mas maiores) que os meus professores pareciam considerar material sine qua non para fazer fichas de leitura dos textos que liam.
Se o grande propósito da ficha de leitura é registar o que nos interessa do que lemos, de forma a evitar termos de ler tudo novamente para o encontrar, então qualquer papel serve, desde que seja prático e eficaz.
Portanto, hoje voltei ao meu antigo método do mestrado: papel A/4 com linhas e numerado à mão. Vou aproveitar o caderno dos seminários (que acabam na próxima semana) e... mãos à obra!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Artigo 1

Depois de a minha pele à roda dos olhos ter manifestado o primeiro ataque de ansiedade claramente causado pelo doutoramento, decidi: não posso continuar a permitir que o pânico aumente por não saber o que vai ser da minha vida nos próximos dois meses, no que respeita aos seminários (por outras palavras, se a maldita creditação me vai permitir livrar-me deles ou não). Se tenho de esperar mais uma semana para saber notícias sobre o processo, não posso esperar de braços cruzados e arriscar-me a perder ainda mais tempo, caso a avaliação seja obrigatória.
Pensei num tema para um artigo, que foi rapidamente aprovado pelo orientador, e preparei uma bibliografia. Agora vou lendo os textos que já tenho, enquanto espero que a Amazon me envie os outros. Aquele primeiro continua intransponível, mas o segundo, que chegou ontem, é mais compreensível para mim. E com o trabalho encarrilado, os sinais exteriores de ansiedade começaram logo a melhorar! O corpo é realmente uma máquina fascinante...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Reencontro

As aulas dos seminários de hoje foram dadas pelos meus professores preferidos da licenciatura, cujas aulas tive o prazer de frequentar há... 19 ANOS????

Estou chocada.


Em todo o caso, e choques à parte, foi muito bom revê-los e sobretudo... reouvi-los.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Leitura difícil

A verdade é que não vejo grande interesse no texto. Se eu soubesse, ou sentisse, que o conteúdo que mal consigo descortinar naquelas linhas é importante para mim, talvez me aplicasse mais na leitura.
E agora vejo, na prática, o que explico em teoria aos meus alunos: se o leitor não sabe o que se espera dele, se não tem uma tarefa de leitura objectiva, pode sentir-se fortemente desmotivado perante o texto. Ah, pois pode!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Boi a olhar para palácio

É como me sinto, quando tento ler o texto «The essay as form» de Theodor Adorno. Uma frustração! Percebo as palavras, mas escapa-me o sentido de frases sucessivas, como se todo aquele discurso estivesse muito acima da minha capacidade intelectual. E deve estar mesmo. Por isso pergunto-me, pela primeira vez de muitas: será que vou conseguir fazer isto?