A linguagem perdeu a sua aptidão própria para a verdade e para a honestidade política ou pessoal. Vendeu, e vendeu ao desbarato, os seus mistérios de intuição profética e as suas capacidades de resposta à lembrança exacta. [...] Agora sabemos que se a palavra «era no princípio», também pode ser no fim: que existe um vocabulário e uma gramática dos campos da morte, que as detonações termo-nucleares podem ser designadas como «Operation sunshine». Seria como se a quinta-essência, o atributo que identifica o homem – o Logos, o órgão da linguagem – se tivesse quebrado dentro das nossas bocas. [...] Em questões decisivas, a nossa civilização, hoje, é uma civilização «depois da palavra».
George Steiner, "Presenças Reais" (1985)
«A linguagem perdeu a sua aptidão própria para a verdade e para a honestidade política ou pessoal».
ResponderEliminarQuer-me parecer que o autor está a partir de uma premissa pouco sólida. A linguagem sempre foi veículo de verdade e de mentira. Sempre foi abrangente, universal e universalista. Sempre foi Abel e Caim. Sempre envolveu Adão com a dissimulação de Eva. A Palavra transcende a Moral, porque pode ser amoral e imoral. A Palavra é a essência, mas também é a aparência, o superficial, o acessório, o desnecessário. Porque a Palavra sempre foi tudo isto «Em questões decisivas, a nossa civilização, hoje, [não] é uma civilização «depois da palavra».» É uma civilização (gosto mais do vocábulo cultura) de todas as palavras.
Desculpe-me a impertinência, mas adoro polemicar... Está na minha carta astrológica (se é que dá algum valor a tal tipo de conhecimento!).
Desculpe-me.