sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ups


E não é que me apercebo de que provavelmente faltam 4 páginas (a "Nota Prévia") na versão final da tese (tanto impressa como digital) que entreguei na Reitoria?!
Só eu...
Resta-me escrever e-mail para lá a pedir que confirmem e que me deixem substituir os exemplares entregues por outros devidamente corrigidos e aguardar resposta.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Para que serve uma carta doutoral?


É esta a pergunta existencial que me atormenta hoje o espírito, desde que tomei a decisão espontânea e provavelmente estúpida de pagar 153 euros por um papel de nome pomposo, que me perguntaram na reitoria se iria querer, juntamente com a certidão do doutoramento, cujo módico preço se fica pelos 50 euros.
A pergunta na realidade desdobra-se em duas: 1) "porque é que eu decidi pagar para ter uma "carta doutoral" que não era obrigatório requerer?" (E a resposta, para não ser "porque sou estúpida", depende, naturalmente, de uma resposta justificativa à segunda pergunta: "afinal, para que serve esse papel vendido a peso de ouro?"
Por favor, não me digam que é apenas para emoldurar...!

 

Surprise!

Eis que a Direção da Escola onde trabalho se organiza para me oferecer um almoço-surpresa, por ter concluído o doutoramento. Circulou um e-mail para que se pudessem inscrever todos os colegas interessados em estar presentes, e supostamente eu iria ser surpreendida na hora em que me conseguissem encaminhar para o restaurante, se não fosse o facto de, naquele dia, eu não estar a contar aparecer senão à noite, para cumprir o meu horário pós-laboral. Assim, a minha chefe teve de me confessar, com alguma pena, que se preparava a tal surpresa, pois a mesa estava marcada e eu insistia em não estar disponível para ir àquela estranha reunião que ela insistia em agendar para a uma da tarde!...
Acabei por levar marido e amiga (ex-colega), com quem tinha combinado almoçar naquele dia, e juntamente com os outros convivas passámos um momento bem agradável, apreciando as deliciosas iguarias preparadas pelos alunos de Hotelaria, no restaurante pedagógico do campus. O único (pequeno) senão foi o calor lá dentro, que conseguiu ser superior ao do ar lá de fora.
Obrigada, chefe!
E já que estamos em maré de simpatia e generosidade... que tal reverem o valor miserável do meu ordenado?!

sábado, 6 de junho de 2015

Defesa indefesa

Entreabrindo a porta da sala, o orientador cumprimentou-me, parecendo aliviado por eu ter aparecido a horas. Perguntei, ingenuamente, se os outros membros do júri já tinham chegado. "Claro que já chegaram, já tivemos uma reunião", esclareceu ele, divertido com a minha ignorância destas situações. Depois disse que se ia "só vestir" e que já me chamavam. Fiquei admirada, pois não pensei que haveria essa formalidade ali - pelo menos não me recordava de ter visto o júri de beca na última defesa a que assistira.
Mas não tive muito tempo para pensar nisso, claro. Daí a nada fui convidada a entrar na sala - e expressamente instruída a fazê-lo antes, e não depois, dos membros do público (marido, pais, irmã e uma amiga). Os ilustres membros do júri ali estavam, sentados, e observaram-me com interesse, enquanto eu me dirigia ao meu lugar. Pareceu-me que um deles me olhou com genuína surpresa, como quem acha que a figura não condiz com a escrita. Sentei-me, tirei a tese da pasta e coloquei-a em cima da mesa, pus umas folhas A/4 à minha frente, bem como a caneta, e pousei a mochila no chão. A Presidente, que foi minha professora há vinte anos, convidou-me a fazer a apresentação da minha tese, no máximo em vinte minutos.
Cumprimentei os membros do júri, o público e o orientador, agradecendo-lhes por diferentes razões. Quase de imediato, senti a saliva a desaparecer-me da boca como que por magia. Parecia que tinha engolido um deserto inteiro. Felizmente, havia uma garrafa de água e um copo na minha mesa, mas eu não podia, pelo menos para já, começar a servir-me. Continuei a desbobinar a gravação com a naturalidade possível, sentindo-me segura e feliz por estar finalmente a deitar cá para fora aquele discurso tantas vezes ensaiado, pela última vez. A dada altura, achei que já podia abrir a garrafa. Admirei-me ao perceber que a minha mão esquerda tremia ligeiramente, enquanto vertia a água no copo. Fluida, pausada, mas sem hesitações, a minha apresentação da tese prosseguiu em modo de piloto automático, até que, antes de concluir, perguntei se estava a ultrapassar ou não o tempo estipulado. Faltavam quatro minutos, mesmo o que era preciso para eu acabar. E acabei.
O primeiro arguente foi convidado a intervir. Fez alguns elogios, mas depressa enveredou pela crítica cada vez mais contundente, acusando-me de abusar das citações, de escrever com um grau e um tom de crítica aos outros demasiado forte, falho em civilidade académica, de ser demasiado segura das minhas opiniões, como se só eu e a minha autora preferida fôssemos detentoras da razão. Estava claramente zangado comigo por eu ter citado o seu trabalho para o criticar. Desdenhou a forma como terminei a conclusão da tese, alegando que aí se via como eu era radical ao ponto de ser insensata.  Respondi-lhe com serenidade, acatando os seus juízos e agradecendo por me ajudar a crescer e a melhorar o meu trabalho. Mas refutei algumas das críticas e expliquei porquê. Penso que fui clara e convincente, pelo menos vi na expressão dos outros membros do júri alguma concordância com o que eu dizia. Dispensei os poucos minutos que me restavam para me defender, se o arguente estivesse de acordo, e andámos para a frente.
O segundo arguente foi mais simpático e menos defensivo, apesar de ser coautor do outro, na obra por mim criticada. Mas leu as suas seis extensas e rebuscadas perguntas, sugerindo que eu escolhesse quatro, instrução que eu ignorei, pois o orientador tinha-me dito que só teria de responder às que eu entendesse e para as quais, naturalmente, tivesse resposta. Comecei por explicar que o facto de ter lido relativamente depressa as suas longas perguntas tinha dificultado a minha apreensão das questões. Por isso, iria responder na medida do possível àquilo que fora capaz de captar. Ele aceitou com aparente agrado as minhas explicações. Também me abstive, quando terminei as respostas que consegui improvisar, de usufruir do tempo que me restava.
O terceiro arguente era aquele de quem eu esperava menos elogios, e foi afinal o que falou do meu trabalho com mais apreço e entusiasmo. Fiquei intensamente feliz quando o ouvi dizer que o último capítulo era o que mais lhe tinha tocado, pois é também o meu preferido, aquele que eu acho mais original e que para mim valeu mais a pena escrever. Fiquei igualmente agradada com o facto de ele ter achado que o terceiro era o menos feliz, o menos investido, porque eu sentia isso mesmo. E fiquei exultante quando ele resolveu contradizer o primeiro arguente, sustentando que a minha conclusão terminava da forma certa: assumindo o risco que era inevitável assumir. Estava eu nas nuvens, entre o alívio de saber que dali para a frente já não haveria nada a temer, e a alegria de ouvir tantos elogios ao meu trabalho, tomando notas das perguntas e das respostas que lhe poderia dar logo a seguir, quando ele me atira a última questão e eu a apanho como uma flecha que me acerta mesmo em cheio no coração: porquê um romance e não a poesia? Se eu até escrevi uma tese de mestrado sobre poesia...
Era fácil responder com lógica e serenidade. A razão era óbvia e não me custaria nada explicá-la de modo a que todos assentissem com a cabeça e pudéssemos avançar. Mas foi isso o que eu fiz? Não. A voz embargou-se-me, mal comecei a responder àquela pergunta aparentemente inócua. Em poucos segundos percebi que era inevitável: ia começar a chorar. E foi isso mesmo que aconteceu. Chorei de emoção, a partir daí, sempre que me referi ao romance que escolhi apresentar na tese, e eles ficaram especados a observar-me, decerto espantados com a minha quebra repentina. Onde estava aquela mulher tão serena e tão segura? Por que raio havia sido de repente substituída por uma rapariguinha emotiva, agarrada ao lenço que o marido lhe passou, de lágrima fácil e voz trémula? Poderia um texto fazer aquilo? Claro que sim. E ainda bem que aquele arguente, minutos antes, se havia referido à importância da reação emocional, da perceção sinestésica, da experiência imediata e sensorial da literatura. Eu era, afinal, a prova viva de que "a literatura faz coisas às pessoas"... como disse depois o orientador.
Daí para a frente, não houve mais perguntas, apenas elogios. Senti-me como uma pateta alegre, de olhos vermelhos e sorriso parvo, enquanto o quarto elemento do júri, uma professora que eu conhecia mal, e depois o orientador, me felicitaram por diversas razões. Só o primeiro arguente se manteve sempre sério, sabe-se lá com que pensamentos a ocuparem-lhe o espírito.
Quando o meu orientador se referiu ao incidente ("acho que nunca vi ninguém chorar de emoção durante as provas de doutoramento...") e insistiu no "mistério" que levou a que aquele romance me tivesse afetado de tal maneira, tentei explicar que o motivo provavelmente se prendia com o facto de terem sido muito especiais para mim os anos em que esse texto, juntamente com outros, foi alvo de atenção nas aulas de literatura que eu nunca mais pude dar e que recordo com imensa saudade. É caso para dizer que a emenda foi pior do que o soneto... quanto mais tentava explicar-me, mais a emoção tomava conta de mim. Mas consegui reunir calma suficiente para poder terminar esclarecendo que, ao contrário do que o orientador declarara ("fez a tese em condições difíceis, sem bolsa, trabalhando a tempo inteiro, nunca se queixou, sempre cumpriu os prazos"), na verdade eu tive muita sorte e não podia senão ter cumprido os prazos, visto que contei com a ajuda dos meus pais, como patrocinadores, e dos meus patrões, que me deixaram escrever a tese no horário de trabalho.
Fomos então convidados a sair para que o júri pudesse deliberar.
Ainda esperámos uns dez ou quinze minutos, conversando animadamente, rindo, comentando o sucedido, procurando perceber o que me levara a deixar saltar a tampa da caixa das emoções. Lentamente, fui descomprimindo o corpo e a mente. Quando voltámos para dentro, estava já calma outra vez. A presidente sorriu e revelou o veredicto do júri, dando-me os parabéns. Agradeci e fiquei parada, aliviada, apreciando o momento sem pressa, sem pensar. Mas a Secretária veio dizer-me que devia ir cumprimentar os elementos do júri. Levantei-me e fui, sem saber muito bem a quem me dirigir primeiro, nem como proceder ao cumprimento. Mas eles foram saindo de trás das mesas por ordem e ofereceram-me a cara, não a mão.
Terminados os cumprimentos, o meu marido perguntou se podia tirar uma fotografia. Claro, vamos lá então. Como é que ficamos? Assim? Está bom. Parámos e sorrimos, suspensos no espaço e no tempo, por uns breves instantes. Nada a ver, tudo a ver.
Lá estamos todos, para a posteridade. Pelo menos para a minha. Com ou sem fotografia.











quinta-feira, 4 de junho de 2015

Simulação


Acabo de fazer a apresentação da tese, sem ler, sentada (pela primeira vez, pois antes fi-lo sempre durante os meus passeios na rua) e demorei exatamente vinte minutos. Tenho a impressão de que nem vale a pena treinar mais, acho que está tudo bem ensaiado. Se falar amanhã assim, como falei agora, a apresentação correrá lindamente. O pior será o resto, claro. A partir do momento em que me comecem a fazer perguntas, não há treino que me valha, será preciso improvisar... Mas se conseguir causar boa impressão com o meu discurso inicial, talvez consiga convencer o júri - e a mim própria - de que estou bem segura dos meus sólidos argumentos!



quarta-feira, 3 de junho de 2015

Apresentação da tese


Acabo de escrever o texto da apresentação da tese, que naturalmente não irei ler.
Escrevi-o sobretudo porque isso me vai ajudar a fixar o conteúdo, mas também porque assim poderei mantê-lo: fica para a (minha breve) posteridade, como recordação desse dia tão importante.
Vou ser a primeira a falar e terei de falar de cor, por isso não fica bem vacilar, andar à procura das palavras certas, tornar-me incoerente por falta de preparação.
Se o meu discurso for incoerente, terá sido por excesso de preparação!


terça-feira, 2 de junho de 2015

A assistência

Quando defendi a tese de Mestrado, não quis lá ninguém. Por vergonha ou receio de que testemunhassem a minha desgraça, caso corresse mal, escondi de quem pude a data da prova e obriguei os que sabiam qual era a prometerem que só lá iriam quando tudo acabasse. Hoje, recordo com remorsos a imagem dos meus pais a chegarem, como o meu querido avô, para me virem cumprimentar à porta do auditório, quando eu saí. Tenho tanta pena de não os ter deixado assistir...
Obviamente, não vou voltar a cometer esse erro. Desta vez, convidei toda a família e amigos que quiserem assistir, e quase, quase avisei os alunos de que iria defender a tese na sexta-feira, caso quisessem aparecer. Mas não o fiz, pela mesma vergonha e pelo mesmo receio de antes, misturados com a convicção de que se iriam aborrecer de morte durante aquelas duas ou três horas.
Ontem perguntei a uma "amiga" se não queria ir, imaginando que ela, estando também a pensar doutorar-se, teria interesse em assistir. Ela recusou prontamente, explicando-me que quando um dia defendesse a sua tese também não quereria fazê-lo na presença de amigos ou familiares. Fiquei um pouco confusa com a razão apresentada e esclareci: «mas eu quero ter lá pessoas amigas e conhecidas!». Disse-lhe que achava que isso seria bom, pois naturalmente ficamos mais à vontade quando falamos perante as caras sorridentes de pessoas que sabemos que acreditam em nós e nos apoiam, mesmo se falharmos. Mas ela não respondeu «Ah! Nesse caso, terei todo o gosto em ir!». Depois percebi porquê, claro.