terça-feira, 12 de julho de 2016

Um ano depois


Faz mais de um ano que me doutorei.
A alegria de ter conseguido, a leveza de estar "despachada", a satisfação de ver finalmente o título por extenso à esquerda do meu nome, tudo isso já passou. O dispendioso "canudo" mora dentro da lata em que veio da Reitoria e a lata, por sua vez, acumula pó num canto discreto de uma das estantes da casa.

Em que é que a minha vida hoje, um ano depois, é melhor por ter feito o doutoramento?

Em pouco. Nos x euros que agora recebo a mais, ao fim de cada mês? Sim, sendo que x = pouquíssimo. E isso foi conseguido através de um pedido fundamentado, pois a mera aquisição do grau não garantia a atualização automática do vencimento.
Porém, não aumentaram as minhas hipóteses de conseguir outro emprego, o que constituía talvez a finalidade mais interessante do esforço empreendido.
É certo que fiz o doutoramento motivada, sobretudo, pelo prazer que me deu escrever a tese, pela realização pessoal. Mas terá valido a pena, em termos práticos?

Para responder, é preciso clarificar esses "termos práticos". Se dizem respeito a dinheiro e a evolução na carreira, não, nem pensar. Nem sequer posso afirmar que agora me é mais fácil manter o emprego que tenho, porque já me tinha sido atribuído o título de especialista nas áreas em que leciono.
No entanto, o grau de felicidade em que nos encontramos também faz parte dos "termos práticos" em que vivemos, acho eu. Em termos práticos, sinto-me bem não apenas por ter escrito uma tese de doutoramento que foi aprovada e elogiada por um júri, mas também por isso. Em termos práticos, recordar essa experiência e tê-la como referência na minha vida ajuda-me a acreditar mais em mim, a gostar mais de mim. O que é que pode ser mais prático do que isso?