quinta-feira, 2 de junho de 2011

Literatura e biografismo

A Metamorfose soube-me a pouco. Não esperava que fosse uma leitura tão rápida e que o enredo fosse tão simples. Não imagino como é que pode ter sido convertido num filme - só se o realizador desenvolveu muito a história e a tornou em algo bastante diferente.
Pareceu-me, de certo modo, uma obra quase juvenil, inocente, ainda que perturbadora. Como se tivesse sido escrita por um adolescente sensível, impressionado com o absurdo de um mundo despótico, frio e cruel.
Foi certamente pelo conjunto da sua obra - e talvez mais por outras do que por esta em particular - e sobretudo em virtude de uma análise biografista que Kafka acabou por ser tão influente na literatura ocidental. O que toca, comove e perturba não é o texto desligado do autor e do contexto, mas a sua leitura tendo em consideração o homem que o escreveu e a experiência de vida que o marcou. E isto continua a ser verdadeiro, nos casos em que os escritores se destacam por um percurso distinto da multidão.
Por mais que se queira abolir o biografismo dos estudos literários, em favor de leituras "científicas" do  "texto-em-si" a relação entre "o homem e a obra" continua a ser irresistível, fecunda e muitas vezes comovente, ao ponto de fazer toda a diferença no entendimento que se faz da literatura.

2 comentários:

  1. Obrigada. Algo me diz que os meus professores não gostariam nadinha, mas o problema deve ser deles ;)

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