quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Primeira "aula"


O primeiro seminário começa na segunda-feira, dia 12, conforme o previsto. Certo?

Mais ou menos. Em vez de um seminário propriamente dito, temos uma sessão de esclarecimentos sobre o curso, com a coordenadora. À porta da sala, a "turma" entreolha-se, curiosa. Alguns começam a falar do problema das opções, que ainda não escolheram. Uma senhora pede desculpa por se intrometer na conversa, mas parece que tem alguma coisa a dizer sobre o assunto. Hesito entre ouvir apenas e meter conversa com eles. Acho que é bom dar-me a conhecer logo no primeiro dia, ser simpática e prestável. Porque não?
Meto-me na conversa, segundo pedido de desculpas. «Já escolheram as vossas opções?» Eles dizem que não. «Mas podem ser feitas no segundo semestre, certo?» Eles dizem que não, que foram informados de que teriam de frequentar a opção no primeiro. Explico que, na matrícula, me foi permitido deixá-la para o segundo. Aliás, expliquei, é o que faz sentido, porque no primeiro semestre todos os cursos têm seminários iniciais muito semelhantes (varia apenas o tema de fundo). Os seminários interessantes para nós escolhermos são todos das especialidades, que começam apenas no segundo semestre. Bem visto, parece. Mas eles não estão convencidos de que se podem inscrever só em Janeiro.

Entramos ordeiramente na sala. Sento-me de lado, as mesas estão em U. Mas depois arrependo-me, porque não vejo a professora, nem o quadro. Mudo de lugar, enquanto é tempo.
Há colegas que chegam atrasados e vão entrando aos poucos. A certa altura, acabam os lugares sentados: não há cadeiras nem mesas que cheguem para os 20 alunos que acabam por ali estar. Os últimos têm de voltar a sair para ir buscar uma cadeira à sala de estudo.
A faculdade não sabia que éramos 20? Sabia. Então porque nos atribuíu uma sala com 16 lugares? E pagamos nós 4800 euros...

A professora lê partes do regulamento e dá-nos informações que, como ela própria confessa, já nós sabemos ou podemos consultar na Internet. Olhamos uns para os outros com ar cúmplice. Parece-nos óbvio que ela está empenhada em entreter-nos apenas, durante aquelas primeiras duas horas de "curso". O pior é haver pessoas que vieram de propósito da Golegã e até de Leiria para ouvirem esclarecimentos banais ou incompletos.
Muda a estratégia: cada um apresenta-se e diz qual a especialidade que escolheu e a tese que quer fazer. Fico surpreendida ao constatar que a esmagadora maioria vai simplesmente aproveitar as respectivas teses de mestrado e esticá-las, para valerem um doutoramento. Quanto a mim, se a tese tem de ser um trabalho original, acho que isto não devia ser permitido. Mas adiante... são espertos e o sistema deixa, pelos vistos.
Chega a minha vez de falar e entusiasmo-me - para minha própria surpresa - com a ideia de voltar à literatura. Talvez tenha sido o facto de estar entre pessoas com esse interesse (não ouvi ninguém dizer que ia escolher Ensino do Português). Dou por mim a confessar que tinha o sonho de fazer uma tese sobre o Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, mas que agora, coitada de mim, as minhas funções docentes me tinham afastado da literatura e obrigado a concentrar-me na língua. Então a coordenadora observa: mas a literatura é fundamental para o ensino da língua! E dá-me a entender que não é nada descabido fazer uma tese em literatura, mesmo na minha situação.


Quanto ao seminário de opção, confirma-se a confusão: a professora não sabe o horário nem quem será o docente do seminário de Investigação em Estudos Portugueses, que é a opção fornecida pelo departamento. Quanto às outras, aconselha-nos a andar pela faculdade a ver os títulos anunciados nos placards dos diversos departamentos, a ver se há algum que nos suscite interesse. E parece que sim, que podemos deixar a opção para o segundo semestre...

Torna-se óbvio que o departamento está a fabricar as regras do jogo à medida que ele avança. Somos cobaias, não restam dúvidas. E, se restassem, seriam dissipadas de imediato quando se falou da avaliação.














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