Há um misto de ansiedade e entusiasmo, durante a tarefa, que se reflecte na forma como trabalho, ora absorta e profundamente empenhada, ora distante e quase desistente, interrompendo abruptamente o ritmo e refugiando-me noutras actividades menos exigentes, como fazer as camas e arrumar a casa.

E quando parece que estou prestes a ser vencida pelo desespero, pela certeza de que o resultado vai ser falhado, de que a perfeição ficará longe do meu alcance, acontece uma espécie de pequeno milagre. Dou-lhe mais três ou quatro toques e o trabalho parece sorrir-me e dizer: "acabaste-me! Não estou bonito?" E eis que é verdade: bem ou mal, está acabado, chegou ao fim. Não é preciso sofrer mais, posso recostar-me na cadeira, ou levantar-me, e olhá-lo à distância tranquila do observador, já não do criador atormentado pelo acto de criar. E este final feliz é sempre uma surpresa, apanha-me sempre desprevenida. Porque nunca sei (algum pintor sabe?) que pincelada será a última.
Sem comentários:
Enviar um comentário