segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ingratidão... ou não?

Optei por suprimir a página (opcional) dos agradecimentos prevista no modelo da faculdade.
Sou, portanto, uma ingrata, pelo menos à luz de todos os que virem nessa ausência um sinal de ingratidão.
Quanto a mim, não sei. Havendo uma página para a dedicatória, que já pode ser usada para agradecer aos familiares e amigos que nos apoiaram, sinceramente parece-me que os agradecimentos não têm muita razão de ser. Julgo que se aplicam sobretudo às teses em que houve pessoas que ajudaram o investigador a recolher dados, etc. No meu caso, o trabalho foi essencialmente solitário, por isso só poderia agradecer ao orientador. E o orientador fez a sua obrigação, ou não?
É claro que eu apreciei e aprecio profundamente a forma como ele me orientou, é claro que o admiro imenso - mais, cheguei a dizer-lhe que escrevi a tese para ele. É o que sinto, realmente. Ele foi o meu leitor de eleição, foi para lhe agradar que me esforcei por escrever uma coisa de jeito. Para mim, sempre foi importante ter um destinatário em mente, quando escrevo. E ele é, obviamente, o destinatário ideal: a pessoa que poderia, quereria e saberia apreciar o meu trabalho. Se ele gostou, eu estou realizada. Não foi para o júri que escrevi, pois até hoje não faço ideia de quem serão essas pessoas.
Voltando à gratidão, o que sinto pelo meu orientador é muito mais intenso e muito mais complexo. É um fascínio que vem de há mais de vinte anos, quando foi meu professor, e que me levou a nutrir por ele uma verdadeira paixão platónica. É uma admiração enorme por tudo o que ele pensa, diz e escreve, é um profundo reconhecimento pela sorte que tive, ao seguir um caminho que se cruzou com o dele. Mas, atrevo-me a dizer, são sentimentos demasiado fortes e ao mesmo tempo demasiado "pirosos" para os deixar escarrapachados na quarta página da tese. Aqui também estão, claro, e mais públicos ainda. Mas aqui posso pôr todos os devaneios e pensamentos, mesmo os mais parvos, porque não tenho medo que alguém os leia - que ele os leia. Se ficarem na tese, corro o risco de ele me vir depois dizer que se sentiu embaraçado, ou que não era preciso. Por isso preferi dizer-lhe directamente: foi com muito prazer que escrevi esta tese para si. E ele é que me agradeceu.

Sem comentários:

Enviar um comentário